terça-feira, 31 de julho de 2012

O mundo depois da Primeira Guerra Mundial - Gripe Espanhola -

Depois da Primeira Guerra, a Europa já não era a mesma. Havia perdido a influência no mundo. Mergulhava rapidamente em uma crise que duraria até as vésperas de outra guerra: A Segunda Guerra Mundial. A Alemanha teve quase 2 milhões de mortes; A França e a Inglaterra, juntas mais de 2 milhões. A Rússia, incluindo a fase da guerra civil, perdeu perto de 5 milhões de habitantes. Enfim, a quantidade de mortos fazia qualquer outro conflito anterior parecer uma pequena batalha perto da carnificina provocada pela Primeira Guerra Mundial. Os prejuízos materiais eram incalculáveis. O comércio estava praticamente a zero. Somente os países que ficaram distantes do palco da guerra, como os Estados Unidos e o Japão, conseguiram tirar proveito do comércio europeu. Também para a América Latina o conflito trouxe alguns benefícios. A Primeira Guerra Mundial foi o prenúncio da crise total que se abateu sobre a Europa, ao mesmo tempo que marcou a mudança do centro das decisões para o outro lado do Atlântico. Também acirrou as contradições do capitalismo, a ponto de provocar o aparecimento de uma nova forma de sociedade: a socialista. História e Saúde A Primeira Guerra Mundial, considerada um dos mais sangrentos episódios da história da humanidade, é vista por muitos historiadores como um marco no nascimento do mundo moderno. Mas o nascimento desse mundo moderno custou muito em termos de vidas. No total as estimativas variam entre 9 e 10 milhões de mortos. A maioria esmagadora dos soldados era formada por jovens. Muitos desses jovens eram estudantes de Oxford e Cambridge , as mais famosas universidades inglesas. Porém não só as balas e as bombas mataram durante os conflitos. A epidemia da chamada gripe espanhola chegou a matar muito mais do que a luta. Veja o exemplo: os Estados Unidos, que se envolveram na guerra só depois de 1917, tiveram cerca de 115 mil soldados mortos, mas a gripe espanhola matou mais de 500 mil americanos. A gripe espanhola mais do que guerra No outono de 1918, enquanto os aliados empurravam as linhas alemãs para leste, indicando que a guerra estava perdida para a Alemanha, um desastre maior do que a própria guerra estava acontecendo no mundo: o surgimento do vírus de uma gripe desconhecida até então, que se espalhou em proporções de uma pandemia. A gripe havia surgido na primavera daquele ano. O lugar exato onde se originou é desconhecido até hoje, mas as teorias popularizadas de sua origem acabou dando o nome pelo qual ficou conhecida, GRIPEESPANHOLA. Uma primeira onda da gripe chegou ao auge nos meses de junho e julho de 1918, mas foi em outubro e novembro que o número de mortes atingiu índices alarmantes. Foi somente naprimavera de 1919 que a gripe começou a diminuir a sua devastadora tarefa de matar. A mortalidade epidêmica foi simplesmente monstruosa. Na França,calcula-se que tenham morrido cerca de 166 mil pessoas na Alemanha, 225 mil, na Inglaterra 230 mil. Nos Estados Unidos, mais de 550 mil pessoas morreram em conseqüência da epidemia da chamada gripe espanhola. Na Ásia, uma das grandes atingidas foi aÍndia, com mais de 1.6 milhões de mortos. A gripe teve um particular impacto sobre a população jovem, entre crianças e adolescentes. Cerca de 25% das vítimas tinham 15 anos de idade ou menos, e 45% tinham entre 15 e 35 anos. Ao todo, mais de 20 milhões de pessoas morreram vítimas da epidemia - número muito maior do que o provocado pela guerra. Muitas explicações para as origens da gripe surgiram na época, mas o agente causador não tinha ainda sido isolado; portanto, permaneceu desconhecido. A gripe teve um caráter de praga, por isso foi vista por muitos como um castigo divino para punir a maior carnificina já feita na história do ser humano, em especial na frente ocidental. Outras hipóteses surgiram na época para explicar as condições que favoreceram a difusão da gripe. Segundo uma dessas teorias, bastante divulgada, a gripe se deveu ao enfraquecimento dos habitantes das cidades, carentes que estavam de alimentação apropriada, dando condições para o aparecimento de doenças. E, na frente de batalha, condições de insalubridade, infestação de piolhos, ratos etc. Todo tratamento que se experimentou contra a gripe se mostrou ineficaz, e a ignorância sobre sua origem impedia a fabricação de uma vacina. A causa viral da gripe espanhola só foi descoberta em fins de1933, quando o vírus mutante já havia praticamente desaparecido. TRATADO DE VERSALHES: O FIM DA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL Em 28 de junho de 1919, os países europeus assinavam o Tratado de Versalhes, que deu fim à Primeira Guerra Mundial (1914-1918). O acordo de paz documentava a Alemanha como a responsável pelo conflito mundial e estabelecia as despesas, multas e exigências políticas, militares e econômicas que deveriam ser cumpridas pelo país. Punitivo, o documento conta com 440 artigos e mais uma quantidade considerável de apêndices que redefinem as fronteiras da Europa, obrigando os povos germânicos a devolver territórios e ceder alguns como compensação da guerra. Assinado na cidade de Versalhes, na França, o tratado demorou cerca de seis meses para ter todos os seus termos definidos e é conhecido como uma continuação do chamado Armistício de Novembro, assinado em 1918, em Compiègne, e que pôs fim aos confrontos armados. Muitos historiadores posicionam o crescimento do nazismo como uma conseqüência cultural do Tratado de Versalhes. Sabe-se que o rigor empregado em relação ao posicionamento da Alemanha na guerra foi massacrante para a economia alemã, que ficou devastada com a guerra e as despesas seguintes. Desta forma, as imposições fizeram com que se espalhasse um forte sentimento de revanchismo e revolta entre a população alemã. Para se ter uma ideia, o período do pós-guerra, entre 1920 e 1930, é marcado por uma crise moral e econômica na Alemanha, que deu espaço à filosofia nazista e a teoria do povo ariano. Mais tarde, este sentimento levaria o país à participação em um novo conflito armado: a Segunda Guerra Mundial. O montante total pago pela Alemanha foi definido pela Tríplice Entente, principalmente França e Inglaterra, durante o estabelecimento da Comissão de Reparação. O valor oficial é de 269 bilhões de marcos alemães – dos quais 226 bilhões, como principal, e mais 12% do valor das exportações anuais da Alemanha. Em 1921, a dívida foi reduzida para 132 bilhões de marcos. CONSEQUÊNCIAS DA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL A Primeira Guerra Mundial terminou com a rendição da Alemanha em 11 de novembro de 1918. A partir daí, a Europa passou por uma reconfiguração de poder. As principais transformações do pós-guerra ocorreram com a edição do Tratado de Versalhes e com as novas definições no mapa político-econômico mundial com o surgimento de novas grandes potências. Tratado de Versalhes Em Versalhes, França, foi realizado o Tratado de Versalhes (1919). Este importante encontro estabeleceu que: • A Alemanha era a única culpada pela guerra; Por ter causado a guerra, os alemães teriam de pagar indenização aos vitoriosos (Inglaterra e França); O exército alemão ficaria limitado ao máximo de 100 mil soldados (número significativamente baixo); • A partir de agora os alemães estavam proibidos de produzir armas e munições; Os territórios conquistados durante a guerra seriam perdidos; A região da Alsácia-Lorena foi reincorporada à França. Porém, as definições do Tratado de Versalhes apenas acentuaram o descontentamento alemão pela derrota na Guerra. Na verdade, um sentimento de revanche enxeria os alemães de ódio pelos “vencedores” do conflito. Sentimento, aliás, que seria muito bem explorado pelos nazistas. Os Estados Unidos após a Guerra Se os estadunidenses antes da guerra eram devedores da Inglaterra, agora saiam do conflito como credores. Os Estados Unidos da América deixavam de ser uma nação emergente para se tornaram numa nova potência mundial. Ingleses e franceses após a Guerra Inglaterra e França que entraram na guerra como as principais potências mundiais, saíram do conflito em grave crise econômica devido às perdas de guerra. Outro problema sério que tiveram de enfrentar foi o de reconstrução de suas principais fontes de energia, abaladas ou perdidas durante o conflito. Criação da Liga das Nações A Liga das Nações, uma espécie de antecessora da ONU, foi criada como um mecanismo internacional de mediação de conflitos. Entre seus objetivos estava, principalmente, evitar novas guerras em território europeu. Entretanto, a Liga das Nações se mostrou ineficiente nas negociações de paz em que se envolveu. Rússia: a Revolução Russa e o pós-Guerra A saída da Rússia da Primeira Guerra Mundial, determinante para a entrada dos Estados Unidos no conflito, ocorreu em função da revolução comunista que sacudiu o país em outubro de 1917. Vitoriosos na Revolução Russa, as classes proletária e camponesa, lideradas por Lênin e Trotsky, iniciaram um processo de transformação político-social-econômico radical no país. Devido a isso, a Rússia, aliando-se a outras repúblicas socialistas (Ucrânia, Letônia, Lituânia, etc.), se tornou na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Não sendo simplesmente uma nova potencia mundial que surgira, mas uma grande potência comunista. Com isso, em 1921, foi realizado o X Congresso do Partido Comunista da Rússia, neste congresso foi aprovada a Nova Política Econômica (NEP). As principais medidas da NEP foram: Formação das cooperativas nacionais (responsáveis pela produção); Autorização para o funcionamento de pequenas e médias empresas privadas; Permissão para que os pequenos camponeses comercializassem seus produtos livremente. Quanto aos setores vitais como indústrias, transportes, comunicações e o sistema financeiro, ficaram sob o controle do Estado. Essas medidas garantiram a estabilidade econômica do país, que experimentaria um processo de rápida modernização. Em 1924, com a morte de Lenin, Joseph Stálin venceu a disputa com Trotsky pelo governo soviético. Uma vez no poder, Stalin iniciou uma severa ditadura no país que duraria até a morte do ditador em 1953. A Primeira Guerra foi uma guerra sem fim Por tudo que vimos acima, especialmente com relação ao Tratado de Versalhes, o fim da Primeira Guerra Mundial não criou um ambiente de paz, ao contrário disso, ampliou as rivalidades existentes desde o período imperialista, especialmente nos alemães que passaram a desejar vingança. O discurso de Hitler era impregnado de acusações contra o Tratado de Versalhes e aos "traidores da nação", pois os social-democratas eram acusados de traidores por terem mediado a rendição do país. Com isso, as chamas da Guerra se manteriam acesas. Com o caminho estando aberto para que regimes autoritários assumissem o controle em várias nações européias, entre elas Alemanha (Hitler) e Itália (Mussolini). TRATADO DE VERSALHES: UM DOS FATORES DA 2a GUERRA MUNDIAL "A vitória total, ratificada por uma paz punitiva, imposta, arruinou as escassas possibilidades existentes de restaurar alguma coisa que guardasse mesmo fraca semelhança com uma Europa estável, liberal, burguesa, como reconheceu de imediato o economista John Maynard Keynes. Se a Alemanha não fosse reintegrada na economia européia, isto é, se não se reconhecesse e aceitasse o peso econômico do país dentro dessa economia, não poderia haver estabilidade. Mas essa era a última consideração na mente dos que tinham lutado para eliminar a Alemanha." "O acordo de paz imposto pelas grandes potências vitoriosas sobreviventes (EUA, Grã-Bretanha, França, Itália) e em geral, embora imprecisamente, conhecido como Tratado de Versalhes, era dominado por 5 considerações". Aqui Hobsbawm faz observações sobre o quanto foi arbitrária a divisão ou fatiamento político do mapa europeu pós-guerra. Só para dar um exemplo de gestação de problemas da época, o governo americano, na figura de Wilson, incentivou a criação de diversos Estados-nação étnico-linguísticos para substituir impérios fatiados - russo, habsburgo, otomano - que ainda nos anos 90 trariam guerras e massacres divisionistas : "O mapa da Europa tinha de ser redividido e retraçado, tanto para enfraquecer a Alemanha quanto para preencher os grandes espaços vazios deixados na Europa e no Oriente Médio pela derrota e colapsos simultâneos dos impérios russo, habsburgo e otomano. Os muitos pretendentes à sucessão, pelo menos na Europa, eram vários movimentos nacionalistas que os vitoriosos tendiam a estimular, contanto que fossem antibolcheviques como convinha (...) A tentativa foi um desastre, como ainda se pode ver na Europa da década de 1990. Os conflitos nacionais que despedaçam o continente na década de 1990 são as galinhas velhas do Tratado de Versalhes voltando mais uma vez para o choco*" p.39 (*) A guerra civil iugoslava, a agitação secessionista na Eslováquia, a secessão dos Estados Bálticos da antiga URSS, os conflitos entre húngaros e romenos pela Transilvânia, o separatismo da Moldova (Moldávia, ex-Bessarábia) e, na realidade, o nacionalismo transcaucasiano, são alguns dos problemas explosivos que não existiam ou não teriam como existir antes de 1914. LIGA DAS NAÇÕES: IDÉIA QUE NÃO VINGOU "A Liga das Nações foi de fato estabelecida como parte do acordo de paz e revelou-se um quase total fracasso, a não ser como uma instituição para coleta de estatísticas." "Nenhum acordo não endossado pelo que era agora uma grande potência mundial (EUA) podia se sustentar." E também: "Duas grandes potências européias, e na verdade mundiais, estavam temporariamente não apenas eliminadas do jogo internacional, mas tidas como não existindo como jogadores independentes - a Alemanha e a Rússia soviética." Esses foram fatores fundamentais para o curto período de paz - com graves crises econômicas nos países envolvidos - até a eclosão da 2a guerra mundial. Bibliografia: HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos - O breve século XX, 1914-1991. Companhia das Letras. Tradução de Marcos Santarrita, 2ª edição, 33ª reimpressão

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