sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Trabalho DAC 3os Anos Questionário



Entrevista : Roteiro básico

1- As recentes notícias sobre o agravamento das crises econômicas nos EUA e na Europa causaram alguma preocupação em você :

( ) Sim ( ) Não Comente :

2- Na sua opinião essas crises podem afetar diretamente sua forma tradicional de viver ?

( ) Sim ( ) Não Comente :

3- A princípio, em sua opinião, a perspectiva de uma alteração na sua forma tradicional de viver é :

( ) Positiva ( ) Negativa Comente :

4- Na sua opinião, de forma geral as mudanças trazidas pela modernidade, especialmente as inovações tecnológicas, são mais :

( ) Positivas ( ) Negativas Comente :

5- Na sua opinião, em momentos de crise como este , é preferível :

( ) Buscar incansavelmente aprofundar de forma crítica as noções sobre a natureza dos problemas

( ) Agir de forma imediata e eficaz Comente :

6- Na sua opinião, em momentos de crise, de maneira geral, é mais importante :

( ) Valorizar a diversidade e os aspectos mais contraditórios dos mais complexos pontos de vista

( ) Buscar rapidamente ultrapassar os desacordos em busca de uma ação harmônica

Comente :

7- Em sua opinião as pessoas em geral estão relativamente satisfeitas com a situação econômica e política atuais ?

( ) Sim ( ) Não Comente

8- Em sua opinião, no Brasil atual, algum grupo específico pode ser diretamente responsabilizado pelos problemas ou distúrbios econômicos e sociais ?

( ) Sim ( ) Não Comente

9- Em sua opinião o povo brasileiro vive uma condição humilhante ?

( ) Sim ( ) Não Comente

10- Voce concorda com esta frase : ‘Não há luta pela vida, mas a vida é vivida pela luta’

( ) Sim ( ) Não Comente

11- Na sua opinião, no Brasil atual os mais pobres são em última instância, os maiores responsáveis por sua condição ?

( ) Sim ( ) Não Comente

12- Na sua opinião o cidadão brasileiro comum pode ser considerado um herói ?

( ) Sim ( ) Não Comente

13- Na sua opinião as recentes discussões acerca das políticas de ampliação dos direitos das minorias

( Mulheres,Negros,Gays, etc) são, de forma geral, mais :

( ) Positivas ( ) Negativas Comente :

14- Na sua opinião, a atual configuração da democracia, especialmente o Legislativo (Assembléias, Câmaras e Senado), representa realmente ‘o povo’ ?:

( ) Sim ( ) Não Comente :

15- Na sua opinião a atual estrutura dos Poderes do Estado : Executivo, Legislativo e Judiciário, poderiam ser simplificados e reunidos ?

( ) Sim ( )Não Comente :

16- Na sua opinião as explicações sobre economia e política são em geral muito complicadas e seria interessante que houvesse uma simplificação destes temas ?

( ) Sim ( ) Não Comente :

17- Do ponto de vista estritamente pessoal você se considera alguém que possui condições para realizar algo de concreto em direção a melhoria de nossas relações sociais ?

( ) Sim ( ) Não Comente :



Considerações Finais : Questões paralelas + Conclusões + Comentário dos entrevistados acerca do teor da entrevista, etc.

domingo, 14 de agosto de 2011

A crise por baixo da crise americana - Arnaldo Jabor OESP 02/08/2011

Arnaldo Jabor - O Estado de S.Paulo 02 Agosto 2011

Hoje é o dia D, de "default". Não sei se hoje a América está em moratória ou não, pois escrevo no passado do domingo. Quando enviei o artigo, tinham chegado a um acordo que ainda será votado pelo plenário na segunda (ontem), um acordo que muitos democratas acham uma vitória republicana, depois de um torturante suspense diante de um abismo.

Estive em Nova Iorque semana passada e senti de perto o cheiro de uma coisa nova: a estranha sensação de que havia e há um desejo de desastre no ar, como se quisessem conhecer o impensável.

O incrível é que caos político foi criado pelo mito de um "equilíbrio" democrático, pela fantasia de que há uma democracia bem azeitada, com dois partidos com opiniões "discordantes". Isto é uma mentira. O Paul Krugman escreveu no NY Times: "O culto ao "equilíbrio" exerceu um papel importante para nos levar até a beira do desastre". Comentaristas tratam da crise política como se os dois partidos fossem igualmente "intransigentes", o que não é verdade. Krugman dá um exemplo: "Se um dos partidos dissesse que a terra é plana, os jornais diriam: "há duas visões que divergem quanto ao formato do planeta"." Não; os republicanos não aceitam que a terra seja redonda. A responsabilidade é totalmente deles. Há o obvio, claro: briga política, eleições em 2012, vingança desde Nixon, racismo, interesses corporativos quanto a impostos. Tudo bem: jogo político sujo normal...Mas, há mais que isso.

Essa obstinação autodestrutiva dos republicanos é tão brutal que aponta para razões mais profundas na consciência americana. Seu prejuízo por essa chantagem escrota será imenso; mas, eles topam tudo para arrasar a América de Obama. A novidade patológica é este recente "quase-suicídio". É como se eles quisessem testar até onde vai o fundo do poço.

Em 1957, morei na Florida, reduto de reacionários à direita de Genghis Khan e vi de perto as duras "certezas" desse povo. Vi os negros humilhados, vi brancos terríveis jogando acido em piscinas que negros ousaram frequentar e lembro-me sempre de um episodio imperceptível, mas que me impressionou muito. Eu viajava num ônibus onde havia uma família branca em pé, uma mãe e duas filhas, entre sete a dez anos. Vestiam-se com roupas longas, coloniais, tapando o corpo todo. Mas, o que me espantou foi o fato de que nem a mãe nem as meninas olharam uma só vez para os passageiros. Era como se nós não existíssemos. Não era desprezo; era uma absoluta negação de nossa presença, dos seres humanos em geral. Eram de uma seita puritana pesada. Senti que ali estava o traço básico do reacionarismo atávico do pais. Os olhos que não nos viam eram a caricatura triste do fundamentalismo individualista, assim como a frieza fanática que vemos nos rostos do famoso quadro de Grant Wood, American Gothic.

O dogmatismo do puritano colonial se rarefez nos séculos e se adoçou um pouco na ideologia mais tolerante dos democratas, mas persiste no coração americano.

E esse veneno está renascendo. A cruel estupidez dos "tea parties" é o sintoma óbvio: a complexidade da vida atual provoca a recaída dessa doença atávica. Ela já assassinou os Kennedies, essa doença contaminou o Watergate e foi desinfetada, tentou o impeachment de Clinton, perseguido como um cão obsceno pela fogueira de Kenneth Starr. Essa doença político-religiosa sempre foi agressiva, mas o fato novo é que agora ela começou a ficar autodestrutiva.

O primeiro ataque foi a vitória fraudada de Bush e Cheney e o estrago irrecuperável que fizeram na América e no Ocidente.

Na Democracia na América, Tocqueville afirma: "O individualismo é um sentimento que estimula cada cidadão a se afastar da massa de seus semelhantes e a se retirar para o isolamento com sua família e amigos; assim, cria uma pequena sociedade para seu uso próprio e abandona voluntariamente a grande sociedade que o envolve".

Essa fé individualista criou a sociedade mais forte do mundo, mas, agora, esse isolamento empreendedor não é mais possível, pois essa crença apenas em si mesmo ficou inviável num mundo revolucionado pela tecnociência, pelo multiculturalismo, pela incessante circularidade política e econômica.

A explosão do Sentido, do "inquestionável projeto ocidental" é insuportável para espíritos individualistas, onde pulsa um leve totalitarismo sob a aparência "democrática". Daí o desejo inconsciente (ou não) de voltar à ideia mais antiga, mais linear de "individuo", quando o mundo era mais "plano". Eles têm a nostalgia do "individuo" do início do século 20 até os anos 50. O "individuo" hoje não tem a solidez antiga. Hoje, nossa "identidade única" foi fraturada em muitos "eus" e muitos outros. E essa fragmentação trouxe aos conservadores a "peste" (como dizem que Freud disse ao chegar aos USA): a intolerável suspeita de que possuem um Inconsciente. Aliás, Freud escreveu no Mal Estar da Civilização: "Nada nos é mais seguro do que o sentimento de nós mesmos, do nosso Eu. Este Eu nos aparece como autônomo, unitário, bem demarcado de tudo o mais. Mas, esta aparência é enganosa, pois o Eu na verdade se prolonga para dentro, sem fronteira nítida, numa entidade psíquica inconsciente a que denominamos Id, à qual o Eu serve de fachada..." É isso que os republicanos querem tamponar, porque o ID é o Outro.

E, ainda por cima, lhes chega o negão reformador e lhes mostra a imperiosa necessidade de mudar o país para uma sociedade mais compartilhada, com mais aceitação das diferenças, com sacrifício comum a todos. É intolerável para os velhos individualistas. Aí, instala-se a fome de irracionalismo, que me faz lembrar a paranoia anti comunista da guerra fria: "Better dead than red".

Exatamente como Osama Bin Laden e os jihadistas, os republicanos e os psicóticos dos "tea parties" querem impedir a modernização deste mundo acelerado.

O grave é que isto pode arruinar a América no pior momento: China, duas guerras e crise econômica e política no mundo todo. Estamos assistindo ao "retorno do reprimido" do inconsciente americano.

Vai sobrar para nós.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

As 14 características do fascismo - Umberto Eco

Crise de 1929 - No início do século XX, os Estados Unidos viviam o seu período de prosperidade e de pleno desenvolvimento, até que a partir de 1925, apesar de toda a euforia, a economia norte-americana começou a passa por sérias dificuldades. Podemos identificar dois motivos que acarretaram a crise: - O aumento da produção não acompanhou o aumento dos salários. Além de a mecanização ter gerado muito desemprego. - A recuperação dos países europeus, logo após a 1ª Guerra Mundial. Esses eram potenciais compradores dos Estados Unidos, porém reduziram isso drasticamente devido à recuperação de suas econômicas. Diante da contínua produção, gerada pela euforia norte-americana, e a falta de consumidores, houve uma crise de superprodução. Os agricultores, para armazenar os cereais, pegavam empréstimos, e logo após, perdiam suas terras. As indústrias foram forçadas a diminuir a sua produção e demitir funcionários, agravando mais ainda a crise. A crise naturalmente chegou ao mercado de ações. Os preços dos papéis na Bolsa de Nova York, um dos maiores centros capitalistas da época, despencaram, ocasionando o crash (quebra). Com isso, milhares de bancos, indústrias e empresas rurais foram à falência e pelo menos 12 milhões de norte-americanos perderam o emprego. Abalados pela crise, os Estados Unidos reduziram a compra de produtos estrangeiros e suspenderam os empréstimos a outros países, ocasionando uma crise mundial. Um exemplo disso é o Brasil, que tinha os Estados Unidos como principal comprador de café. Com a crise, o preço do café despencou e houve uma superprodução, gerando milhares de desempregados no Brasil. Para solucionar a crise, o eleito presidente Franklin Roosevelt, propôs mudar a política de intervenção americana. Se antes, o Estado não interferia na economia, deixando tudo agir conforme o mercado, agora passaria a intervir fortemente. O resultado disso foi a criação de grandes obras de infra-estrutura, salário-desemprego e assistência aos trabalhadores, concessão de empréstimos, etc. Com isso, os Estados Unidos conseguiram retomar seu crescimento econômico, de forma gradual, tentando esquecer a crise que abalou o mundo.

O Fascismo Italiano As consequências da Primeira Guerra Mundial foram desastrosas para a Itália. Além do saldo negativo de 650.000 mortos e a região de Veneza devastada, cresceram as dificuldades econômicas e o desemprego. Surgiram muitos conflitos sociais, como o aumento de greves, revoltas e reivindicações. Os burgueses, sentindo-se ameaçados, se apoiaram num pequeno grupo político, disposto a acabar com a força revolucionária: os fascistas. Eles disputavam o poder com os socialistas.O fascismo é uma ideologia totalitária, que defende o Estado como incorporador e representante de todos os interesses do povo, e nacionalista - a nação é considerada a mais alta forma de sociedade desenvolvida pelo homem. Ela surgiu na Itália depois da Primeira Guerra. O fascismo tinha suporte no movimento de renovação da burguesia nacionalista e no temor de que revoluções operárias, como a russa e a alemã, se repetissem na Itália. A fundação, em 1914, por Benito Mussolini, dos Combatentes do fascio (machado rodeado de varas, símbolo de autoridade no Império Romano) e das Esquadras de Ação, em oposição tanto ao regime democrático-parlamentar quanto ao perigo bolchevique, direcionou o apoio do empresariado.Este grupo político, que era formado por anarquistas, sindicalistas, nacionalistas e antigos combatentes mal adaptados à vida civil, concorreu às eleições em 1919, sendo derrotados e não obtendo uma cadeira sequer no Parlamento.Os fascistas estavam dispostos a derramar seu sangue pela revolução. Mas Mussolini teve de remodelar seu partido, pois o fracasso nas eleições mostrou todas as deficiências deste. E, após ser reorganizado em moldes para-militares, todos os seus membros passaram a usar camisas negras, um símbolo de luto da Itália.Mussolini conseguia arrastar multidões com seus discursos simples, mas conturbantes, pois, além de oportunista, era um hábil orador, que se preparava para chegar ao poder. Os fascistas no poder Mesmo não tendo uma doutrina firme, sendo inclusive, contraditórios na maioria das vezes, os fascistas passaram de 200.000 em 1919 para 300.000 em 1921.Os fascistas aproveitaram-se da anarquia reinante na Itália para se impor. Atacavam socialistas e comunistas, organizavam "expedições punitivas" e exaltavam a violência em nome do nacionalismo.Em Julho de 1922, a violência fascista evitou uma greve geral, decretada pelos partidos de esquerda. Foi então preparado um golpe de força que seria apoiado militarmente por uma marcha sobre Roma. Em 26 de Outubro, Mussolini exigiu o poder ao Rei Vítor Manuel III, e foi encarregado de organizar um ministério, onde foram introduzidos vários simpatizantes do fascismo. A partir deste momento, os fascistas detinham muitos poderes, apesar de o governo manter as aparências, continuando a existir a Câmara dos Deputados e o Senado, e, de todos os 14 ministros, somente 4 serem fascistas.E, nas eleições de 1924, quando os fascistas obtiveram 3/4 dos votos, os métodos para chegar a este resultado foram muito violentos. Já em 3 de Janeiro de 1925, Mussolini estabeleceu um regime totalitário de governo. A oposição foi eliminada, a constituição reformada, desapareceram o Senado e a Câmara dos Deputados. Foi estabelecida a linha única de candidatos e apenas um partido continuou a existir. Assim, Mussolini, chefe do Partido Fascista, tornou-se ditador absoluto da Itália (Duce). As realizações do Fascismo Desde 1870, as relações entre a Igreja e o Estado estavam abaladas. Mas, com o Tratado de Latrão, Mussolini resolveu o problema. O papado teria uma compensação financeira pela perda dos seus territórios; o casamento civil seria equiparado ao religioso e o ensino da religião católica seria obrigatório em todas as escolas. Para Mussolini, foi uma ótima jogada política, pois atraiu os católicos para o seu partido. Mas ainda não satisfeito, continuou vigiando as publicações da igreja. O estado foi organizado corporativamente: todos os profissionais estariam agrupados numa corporação, desde patrões até empregados. Greves eram proibidas e todos os problemas eram enviados ao Estado. Assim, as corporações tendiam a constituir um fator de cooperação entre as classes, e não de briga entre elas. A economia italiana teve mudanças somente na fachada, já que todas as categorias profissionais passaram a ser representadas em uma Câmara das Corporações. Já na política demográfica, o governo estabeleceu vantagens para as famílias numerosas, por que a expansão italiana deveria ser assegurada por uma população forte. Mas a reação demográfica foi reduzida: a natalidade cresceu pouco, declinando apenas os índices de mortalidade e emigração. Para resolver o problema econômico, foram iniciados grandes trabalhos públicos: auto-estradas, aquedutos, edifícios habitacionais. A indústria foi dinamizada nos setores hidroelétrico, da construção naval, aeronáutica, automobilística, etc. No setor agrícola, a batalha do trigo aumentou a produção de 46 a 65 milhões de quintais, permitindo à Itália dispensar importações do produto. Dessa forma, o governo fascista de Mussolini procurou conduzir a Itália pelo caminho do desenvolvimento econômico. Contudo, apesar de aumentados pela propaganda, os resultados dos primeiros anos pareciam bastante modestos, se comparados com o programa apresentado inicialmente.

Na Alemanha
o movimento fascista foi chamado de nazismo. A suástica era o símbolo Nazista Após a Primeira Grande Guerra, a Alemanha passou por uma crise. Além da derrota, os alemães tiveram que pagar uma dívida de guerra aos ingleses e franceses e a crise de 29 prejudicou ainda mais a situação, levando milhares de alemães ao desemprego e ao desespero. Tudo isso contribuiu para fortalecer ainda mais os movimentos radicais, sobretudo o nazismo. O sentimento de vingança crescia cada vez mais entre os alemães. O partido nazista, chefiado por Adolf Hitler, ganhava muitos votos. Eles acusavam comunistas, liberais e judeus da desordem e prometiam restaurar o orgulho de ser alemão. Os nazistas diziam que os alemães pertenciam a uma raça superior (ariana). Em um país que vivia na miséria, os nazistas ofereciam a chance de melhora e a esperança de um país melhor. Formavam grupos de jovens que iam às ruas perseguir seus inimigos. As propagandas enganosas ajudaram Hitler a ser transformado no “Salvador da Alemanha”. Hitler nasceu na Áustria em abril de 1889 e se alistou no exército alemão aos 25 anos de idade. Em 1919, ingressou no Partido Operário Alemão (grupo de direita) do qual foi presidente, mais tarde este partido foi rebatizado com o nome de Partido Operário Nacional-Socialista Alemão. Em 1921, criou suas próprias forças de ataque – as SA (Sturmabteilung). O enfraquecimento dos demais partidos políticos e um golpe de estado contribuíram muito para que os nazistas tomassem o poder. Porém, antes de consegui-lo, Hitler havia tentado um outro golpe de estado em 1923, isso o levou para a prisão, onde escreveu “Mein Kampf” (Minha Luta), obra em que registrou suas idéias a respeito das raças do mundo. Quando saiu da prisão, reorganizou o partido e criou uma espécie de polícia militar – a SS (Schutzstaffel). Com todos os problemas que a Alemanha passava (inflação, desemprego), o partido nazista ganhava adeptos e votos devido a uma propaganda política competente. Em 1923, empresas capitalistas passaram a apoiá-lo financeiramente. O presidente Hindenburg encarregou o chefe do Partido Nacional Popular de formar o governo, e este pediu apoio aos nazistas. Hitler concordou com uma condição: queria o posto de chanceler (chefia do governo). Cargo que conseguiu em janeiro de 1933. Dotado de poder, mandou incendiar o edifício do Reichstag (Parlamento) para jogar a culpa nos comunistas, extinguiu os partidos políticos (menos o nazista) e os sindicatos por 3 anos, diminuiu os direitos dos estados em favor do poder central e tomou medidas anti-semitas. Todos os opositores de Hitler foram assassinados e um desses massacres ficou conhecido como “Noite dos Longos Punhais”, em junho de 1934. Para tanto, utilizou a violência da SS. No mesmo ano, com a morte de Hindenburg, Hitler assumiu a presidência e as Forças Armadas deveriam prestar-lhe juramento de fidelidade. Muitos opositores (juntamente com comunistas e judeus) foram levados para os campos de concentração. O partido nazista controlava a população e esse controle era feito pelo Ministro Joseph Goebbels que fiscalizava a imprensa, a literatura, o cinema e o rádio (principal instrumento de comunicação das massas). Já no final da Segunda Guerra quando as tropas aliadas entraram na capital alemã, Hitler (que estava em seu esconderijo) cometeu suicídio. Racismo, totalitarismo e nacionalismo foram alguns ideais seguidos pelos nazistas. O nazismo levou milhares de pessoas (judeus, homossexuais, ciganos) à morte. Muitos, inclusive, foram usados em terríveis experiências médicas. Até hoje, a humanidade lembra, relembra e sofre ao recordar este lamentável episódio da nossa história universal, que ficou conhecido como Holocausto.

As 14 características do fascismo - Umberto Eco
filósofo italiano : “New York Review of Books” junho de 1995. - “(...) A despeito dessa confusão, considero possível indicar uma lista de características típicas daquilo que eu gostaria de chamar de “Ur-Fascismo”, ou “fascismo eterno”. Tais características não podem ser reunidas em um sistema; muitas se contradizem entre si e são típicas de outras formas de despotismo ou fanatismo. Mas é suficiente que uma delas se apresente para fazer com que se forme uma nebulosa fascista.”

1 - Culto à tradição - 2 - Rejeição à modernidade -3 - Culto da ação pela ação (descrédito da atividade intelectual) 4 - Ataque ao espírito crítico 5 - Medo da diferença, racismo e ataque à diversidade 6 - O fascismo eterno deriva de frustrações individuais ou sociais 7 - Entre pessoas sem identidade social, o fascismo ressalta o privilégio comum de nascimento num mesmo país 8 - Os seguidores devem se sentir humilhados pela ostentação, riqueza e força dos seus inimigos 9 - Não há luta pela vida, mas a vida é vivida pela luta 10 - Desprezo pelos mais fracos 11 - Todos são educados para se tornarem heróis 12 - Levado pelo heroísmo e pela guerra, o fascismo universal reforça o sentimento machista 13 - Populismo seletivo, dando a impressão de que o povo tem voz, enquanto é governado com mão de ferro 14 - “Novilíngua”: empobrecimento do vocabulário e da sintaxe para limitar o pensamento

1. A primeira característica de um Ur-Fascismo é o culto da tradição. O tradicionalismo é mais velho que o fascismo. Não somente foi típico do pensamento contra-reformista católico depois da Revolução Francesa, mas nasceu no final da idade helenística como uma reação ao racionalismo grego clássico. Na bacia do Mediterrâneo, povos de religiões diversas (todas aceitas com indulgência pelo Panteon romano) começaram a sonhar com uma revelação recebida na aurora da história humana. Essa revelação permaneceu longo tempo escondida sob o véu de línguas então esquecidas. Havia sido confiada aos hieróglifos egípcios, às runas dos celtas, aos textos sacros, ainda desconhecidos, das religiões asiáticas. Essa nova cultura tinha que ser sincretista. “Sincretismo” não é somente, como indicam os dicionários, a combinação de formas diversas de crenças ou práticas. Uma combinação assim deve tolerar contradições. Todas as mensagens originais contêm um germe de sabedoria e, quando parecem dizer coisas diferentes ou incompatíveis, é apenas porque todas aludem, alegoricamente, a alguma verdade primitiva. Como consequência, não pode existir avanço do saber. A verdade já foi anunciada de uma vez por todas, e só podemos continuar a interpretar sua obscura mensagem. É suficiente observar o ideário de qualquer movimento fascista para encontrar os principais pensadores tradicionalistas. A gnose nazista nutria-se de elementos tradicionalistas, sincretistas ocultos. A mais importante fonte teórica da nova direita italiana Julius Evola, misturava o Graal com os Protocolos dos Sábios de Sião, a alquimia com o Sacro Império Romano. O próprio fato de que, para demonstrar sua abertura mental, a direita italiana tenha recentemente ampliado seu ideário juntando De Maistre, Guenon e Gramsci é uma prova evidente de sincretismo. Se remexerem nas prateleiras que nas livrarias americanas trazem a indicação “New Age”, irão encontrar até mesmo Santo Agostinho e, que eu saiba, ele não era fascista. Mas o próprio fato de juntar Santo Agostinho e Stonehenge, isto é um sintoma de Ur-Fascismo.

2. O tradicionalismo implica a recusa da modernidade. Tanto os fascistas como os nazistas adoravam a tecnologia, enquanto os tradicionalistas em geral recusam a tecnologia como negação dos valores espirituais tradicionais. Contudo, embora o nazismo tivesse orgulho de seus sucessos industriais, seu elogio da modernidade era apenas o aspecto superficial de uma ideologia baseada no “sangue” e na “terra” (Blut und Boden). A recusa do mundo moderno era camuflada como condenação do modo de vida capitalista, mas referia-se principalmente à rejeição do espírito de 1789 (ou 1776, obviamente). O iluminismo, a idade da Razão eram vistos como o início da depravação moderna. Nesse sentido, o Ur-Fascismo pode ser definido como “irracionalismo”.

3. O irracionalismo depende também do culto da ação pela ação. A ação é bela em si, portanto, deve ser realizada antes de e sem nenhuma reflexão. Pensar é uma forma de castração. Por isso, a cultura é suspeita na medida em que é identificada com atitudes críticas. Da declaração atribuída a Goebbels (“Quando ouço falar em cultura, pego logo a pistola”) ao uso frequente de expressões como “Porcos intelectuais”, “Cabeças ocas”, “Esnobes radicais”, “As universidades são um ninho de comunistas”, a suspeita em relação ao mundo intelectual sempre foi um sintoma de Ur-Fascismo. Os intelectuais fascistas oficiais estavam empenhados principalmente em acusar a cultura moderna e a inteligência liberal de abandono dos valores tradicionais.

4. Ataque ao espírito crítico Nenhuma forma de sincretismo pode aceitar críticas. O espírito crítico opera distinções, e distinguir é um sinal de modernidade. Na cultura moderna, a comunidade científica percebe o desacordo como instrumento de avanço dos conhecimentos. Para o Ur-Fascismo, o desacordo é traição.

5. Medo da diferença, racismo e ataque à diversidade O desacordo é, além disso, um sinal de diversidade. O Ur-Fascismo cresce e busca o consenso desfrutando e exacerbando o natural medo da diferença. O primeiro apelo de um movimento fascista ou que está se tornando fascista é contra os intrusos. O Ur-Fascismo é, portanto, racista por definição.

6. O Ur-Fascismo provém da frustração individual ou social. O que explica por que uma das características dos fascismos históricos tem sido o apelo às classes médias frustradas, desvalorizadas por alguma crise econômica ou humilhação política, assustadas pela pressão dos grupos sociais subalternos. Em nosso tempo, em que os velhos “proletários” estão se transformando em pequena burguesia (e o lumpesinato se auto exclui da cena política), o fascismo encontrará nessa nova maioria seu auditório.

7. Xenofobia.Para os que se vêem privados de qualquer identidade social, o Ur-Fascismo diz que seu único privilégio é o mais comum de todos: ter nascido em um mesmo país. Esta é a origem do “nacionalismo”. Além disso, os únicos que podem fornecer uma identidade às nações são os inimigos. Assim, na raiz da psicologia Ur-Fascista está a obsessão do complô, possivelmente internacional. Os seguidores têm que se sentir sitiados. O modo mais fácil de fazer emergir um complô é fazer apelo à xenofobia. Mas o complô tem que vir também do interior: os judeus são, em geral, o melhor objetivo porque oferecem a vantagem de estar, ao mesmo tempo, dentro e fora. Na América, o último exemplo de obsessão pelo complô foi o livro The New World Order, de Pat Robertson.

8. Sentimento de humilhação pela riqueza ostensiva e pela força do inimigo Os adeptos devem sentir-se humilhados pela riqueza ostensiva e pela força do inimigo. Quando eu era criança ensinavam-me que os ingleses eram o “povo das cinco refeições”: comiam mais frequentemente que os italianos, pobres mas sóbrios. Os judeus são ricos e ajudam-se uns aos outros graças a uma rede secreta de mútua assistência. Os adeptos devem, contudo, estar convencidos de que podem derrotar o inimigo. Assim, graças a um contínuo deslocamento de registro retórico, os inimigos são, ao mesmo tempo, fortes demais e fracos demais. Os fascismos estão condenados a perder suas guerras, pois são constitutivamente incapazes de avaliar com objetividade a força do inimigo.

9. Não há luta pela vida, mas a vida é vivida pela luta Para o Ur-Fascismo não há luta pela vida, mas antes “vida para a luta”. Logo, o pacifismo é conluio com o inimigo; o pacifismo é mau porque a vida é uma guerra permanente. Contudo, isso traz consigo um complexo de Armagedon: a partir do momento em que os inimigos podem e devem ser derrotados, tem que haver uma batalha final e, em seguida, o movimento assumirá o controle do mundo. Uma solução final semelhante implica uma sucessiva era de paz, uma idade de Ouro que contestaria o princípio da guerra permanente. Nenhum líder fascista conseguiu resolver essa contradição.

10. Desprezo pelos mais fracos O elitismo é um aspecto típico de qualquer ideologia reacionária, enquanto fundamentalmente aristocrática. No curso da história, todos os elitismos aristocráticos e militaristas implicaram o desprezo pelos fracos. O Ur-Fascismo não pode deixar de pregar um “elitismo popular”. Todos os cidadãos pertencem ao melhor povo do mundo, os membros do partido são os melhores cidadãos, todo cidadão pode (ou deve) tornar-se membro do partido. Mas patrícios não podem existir sem plebeus. O líder, que sabem muito em que seu poder não foi obtido por delegação, mas conquistado pela força, sabe também que sua força baseia-se na debilidade das massas, tão fracas que têm necessidade e merecem um “dominador”. No momento em que o grupo é organizado hierarquicamente (segundo um modelo militar), qualquer líder subordinado despreza seus subalternos e cada um deles despreza, por sua vez, os seus subordinados. Tudo isso reforça o sentido de elitismo de massa.

11. Todos são educados para se tornarem heróis Nesta perspectiva, cada um é educado para tornar-se um herói. Em qualquer mitologia, o “herói” é um ser excepcional, mas na ideologia Ur-Fascista o heroísmo é a norma. Este culto do heroísmo é estreitamente ligado ao culto da morte: não é por acaso que o mote dos falangistas era: “Viva la muerte!” À gente normal diz-se que a morte é desagradável, mas é preciso enfrentá-la com dignidade; aos crentes, diz-se que é um modo doloroso de atingir a felicidade sobrenatural. O herói Ur-Fascista, ao contrário, aspira à morte, anunciada como a melhor recompensa para uma vida heróica. O herói Ur-Fascista espera impacientemente pela morte. E sua impaciência, é preciso ressaltar, consegue na maior parte das vezes levar os outros à morte.

12. Sentimento machista Como tanto a guerra permanente como o heroísmo são jogos difíceis de jogar, o Ur-Fascista transfere sua vontade de poder para questões sexuais. Esta é a origem do machismo (que implica desdém pelas mulheres e uma condenação intolerante de hábitos sexuais não-conformistas, da castidade à homossexualidade). Como o sexo também é um jogo difícil de jogar, o herói Ur-Fascista joga com as armas, que são seu Ersatz fálico: seus jogos de guerra são devidos a uma invidia penis permanente.

13. Populismo seletivo O Ur-Fascismo baseia-se em um “populismo qualitativo”. Em uma democracia, os cidadãos gozam de direitos individuais, mas o conjunto de cidadãos só é dotado de impacto político do ponto de vista quantitativo (as decisões da maioria são acatadas). Para o Ur-Fascismo os indivíduos enquanto indivíduos não têm direitos e “o povo” é concebido como uma qualidade, uma entidade monolítica que exprime “a vontade comum”. Como nenhuma quantidade de seres humanos pode ter uma vontade comum, o líder apresenta-se como seu intérprete. Tendo perdido seu poder de delegar, os cidadãos não agem, são chamados apenas pars pro toto, para assumir o papel de povo. O povo é, assim, apenas uma ficção teatral. Para ter um bom exemplo de populismo qualitativo, não precisamos mais da Piazza Venezia ou do estádio de Nuremberg. Em nosso futuro desenha-se um populismo qualitativo TV ou Internet, no qual a resposta emocional de um grupo selecionado de cidadãos pode ser apresentada e aceita como a “voz do povo”. Em virtude de seu populismo qualitativo, o Ur-Fascismo deve opor-se aos “pútridos” governos parlamentares. Uma das primeiras frases pronunciadas por Mussolini no parlamento italiano foi: “Eu poderia ter transformado esta assembléia surda e cinza em um acampamento para meus regimentos”. De fato, ele logo encontrou alojamento melhor para seus regimentos e pouco depois liquidou o parlamento. Cada vez que um político põe em dúvida a legitimidade do parlamento por não representar mais a “voz do povo”, pode-se sentir o cheiro de Ur-Fascismo.

14. “Novilíngua”: empobrecimento do vocabulário e da sintaxe para limitar o pensamento O Ur-Fascismo fala a “novilíngua”. A “novilíngua” foi inventada por Orwell em 1984, como língua oficial do Ingsoc, o Socialismo Inglês, mas certos elementos de Ur-Fascismo são comuns a diversas formas de ditadura. Todos os textos escolares nazistas ou fascistas baseavam-se em um léxico pobre e em uma sintaxe elementar, com o fim de limitar os instrumentos para um raciocínio complexo e crítico. Devemos, porém estar prontos a identificar outras formas de novilíngua, mesmo quando tomam a forma inocente de um talk-show popular.