segunda-feira, 27 de julho de 2009

Entenda os conflitos entre polícia e muçulmanos na China

da Folha Online

Um protesto da minoria étnica muçulmana uigur no oeste da China deixou ao menos 140 mortos e 828 feridos desde o começo deste domingo. A agência de notícias Xinhua informa que entre 1.000 e 3.000 manifestantes saíram às ruas para protestar contra a morte dos dois uigures na semana passada.

O protesto começou pacificamente neste domingo (5), na cidade de Urumqi (3.270 km de Pequim), capital da região autônoma de Xinjiang, contra a morte de dois uigures em uma fábrica de brinquedos do sul do país, após eles terem sido linchados. Os uigures criticavam a discriminação por parte da etnia han, dominante no país.

A manifestação rapidamente se tornou um ato de vandalismo na cidade. Redes de TV chinesas mostram os manifestantes quebrando lojas e queimando carros da cidade. Wu Nong, diretor do departamento de imprensa do governo local, informou que 260 veículos foram atacados e 203 casas ou lojas ficaram destruídas. A polícia divulgou nesta segunda-feira que ao menos dez pessoas foram presas acusadas de incitar os protestos. Foi decretado toque de recolher na região e "agora a situação está sob controle", informou nota da polícia.

Minoria

Os uigures são uma minoria predominantemente muçulmana. Muitos reclamam que estão sendo marginalizados econômica e politicamente em suas próprias terras, que possui ricas reservas de gás natural e minerais. Há entre 15 milhões e 20 milhões de islâmicos na China, quase a metade em Xinjiang. Os chineses da etnia han formam cerca 91,5% da população do país.

A etnia uigir está sob controle chinês desde 1955, quando foi fundada região autônoma de Xinjiang. Desde então são relatados choques entre os islâmicos e o governo, movimentos armados pró-independência, ataques terroristas e mortes de civis na área.

Os confrontos com a polícia vieram após protestos sobre a forma como a polícia lidou com os conflitos entre a maioria han chinesa e os uigures em uma fábrica no sul da China, onde dois uigures morreram.

Contudo, a principal causa por trás da manifestação foram provavelmente os conflitos religiosos, econômicos e culturais que se construíram em décadas de rígido controle central e que periodicamente eclodem em violência --embora nunca tenham chegado a uma escala violenta como a vista neste domingo.

Separatistas

O governo chinês diz que o levante de domingo foi incentivado por grupos separatistas exilados que subverteram a ordem na região. "Depois do incidente [na fábrica], as forças externas acharam um motivo para nos atacar, incitando estes protestos de rua", afirmou Nuer Baikeli, governador de Xinjiang.

Mais protestos

É improvável que haja mais protestos em Urumqi já que as forças de segurança já assumiram o controle da cidade e estabeleceram forte presença nas ruas.

Analistas afirmam, contudo, que pode haver incidentes isolados em outras cidades, particularmente naquelas onde há maioria uigur.

O governo chinês, contudo, deve intervir energicamente na região, com intervenção do Exército e prisões em massa, para impedir que novos protestos sejam realizados. As medidas são semelhantes às tomadas logo após os protestos no Tibete em março de 2008, quando um conflito étnico parecido ocorreu.

Na ocasião a polícia chinesa deteve 1.317 pessoas, das quais 1.115 foram libertadas depois, enquanto as outras foram julgadas. Os tibetanos no exílio dizem que a repressão das forças de segurança chinesas após os protestos deixou mais de 200 mortos.

Mudanças

Parece impossível que Pequim consiga ignorar um episódio de violência étnica como o deste domingo. Mas os protestos, que ocorrem três meses antes do aniversário de fundação da Republica Popular da China, devem dar tantos argumentos aos chineses linha-dura que defendem maior controle do governo quanto aos que defendem maior reconciliação.

Qualquer mudança deve acontecer ainda dentro dos bastidores da fechada política chinesa que defende o nacionalismo como uma ideologia unificadora e que favorece um rosto único e forte para ser mostrado ao mundo.

Entenda a crise política em Honduras

da Folha de S. Paulo

Horas após confrontos violentos entre a polícia e manifestantes em apoio ao presidente deposto, Manuel Zelaya, o presidente interino de Honduras, Roberto Micheletti, afirmou à Rádio Nacional que "não houve golpe de Estado e nem nada parecido" no país.

Micheletti tenta convencer a comunidade internacional, unânime na condenação da deposição de Zelaya, que sua chegada ao poder está conforme a Constituição.

Entenda a crise política em Honduras

Quem deu o golpe em Honduras?

Militares, com apoio da Corte Suprema, que disse ter ordenado a prisão de Zelaya, e o Congresso, que leu uma suposta carta de renúncia dele. Presidente negou ter deixado o cargo.

Qual é o motivo da crise política?

Zelaya decretou a realização de uma consulta nacional sobre a possibilidade de convocar uma Assembleia Constituinte. A pesquisa, que aconteceria ontem, foi considerada ilegal pela Justiça, pelo Congresso e pelo Ministério Público.

O que diz o presidente?

O neoaliado do venezuelano Hugo Chávez diz que a consulta não tem força de lei e que ele desejava abrir caminho para uma Constituição que desse voz aos pobres, 70% do país.

O que diz a oposição a Zelaya?

O presidente descumpriu uma ordem judicial, e por isso foi preso. A intenção de Zelaya com a consulta é impor uma nova Carta que permita a reeleição.

Qual a situação agora?

Todos os países das Américas condenaram o golpe e exigem o retorno de Zelaya. Congresso e Justiça hondurenha dizem que haverá governo interino até eleições gerais de novembro.

Novo chanceler crê poder provar que não houve golpe em Honduras
Publicidade
FABIANO MAISONNAVE
enviado especial da Folha de S. Paulo a Tegucigalpa (Honduras)

O recém-empossado ministro de Relações Exteriores de Honduras, Enrique Ortez, terá a tarefa mais difícil do novo governo do país: convencer o mundo de que não houve um golpe de Estado. Até esta segunda-feira, nenhum país havia reconhecido a posse do presidente Roberto Micheletti.

Sem apoio do partido, Zelaya espera reação popular
Veterano, Micheletti chega à Presidência após golpe
Golpe em Honduras repete roteiro do século 20

O presidente eleito Manuel Zelaya foi derrubado do poder neste domingo (28), em um golpe orquestrado pela Justiça e o Congresso e executado por um grupo de militares que o expulsaram para a Costa Rica, provocando uma condenação mundial unânime.

O golpe foi realizado horas antes de o país iniciar uma consulta pública sobre um referendo para reformar a Constituição. O presidente deposto queria incluir o referendo sobre a convocação da Assembleia Constituinte --que, segundo críticos, era uma forma de Zelaya instaurar a reeleição presidencial no país-- nas eleições gerais de 29 de novembro. A proposta, contudo, foi rejeitada pelo Congresso.

Os parlamentares afirmaram que a deposição de Zelaya foi aprovada por suas "repetidas violações da Constituição e da lei e desrespeito a ordens e decisões das instituições". O presidente deposto defendeu-se dizendo ser vítima de "um complô de uma elite voraz, uma elite que só quer manter o país isolado, em um nível extremo de pobreza".

Ex-assessor de Defesa de Zelaya, Ortez, advogado de formação, é um antigo membro do Partido Liberal. Em governos anteriores, foi ministro de Governo e embaixador. Ele concedeu entrevista, minutos antes de assumir, à Fabiano Maisonnave, publicada nesta terça-feira pela Folha
(a íntegra está disponível apenas para assinantes do jornal e do UOL).

Ele afirma que ainda não sabe qual será a estratégia do novo governo para se legitimar. "Só o que vou dizer é que não vou brigar com ninguém. Existem leis nacionais e leis internacionais. Vamos respeitar todos os tratados internacionais assinados, inclusive a Alba [bloco liderado pelo venezuelano Hugo Chávez]".

Ortez falou ainda das críticas do governo Lula, que afirmou que reconhece apenas o governo de Zelaya.

"Eu não ouvi, mas vou pedir explicações oficiais ao embaixador brasileiro para que ele tenha a informação adequada. Além disso, o cangaceiro [sic] e o hondurenho às vezes divergem pela forma de falar", disse.

29/06/2009 - 08h38
Golpe em Honduras repete roteiro do século 20
Publicidade
da Folha de S. Paulo

Destituído pelo presidente Manuel Zelaya e reintegrado por ordem da Justiça, o chefe do Estado Maior das Forças Armadas de Honduras, general Romeo Vásquez, continuava dando ordens a seus soldados. Chegou a ser tacitamente reinstalado no cargo pelo próprio Zelaya e repetia que não haveria golpe: "Os tempos mudaram", disse, na sexta.

Mas o que se seguiu, na madrugada deste domingo, repetiu um roteiro comum na América Latina, especialmente na Guerra Fria. (O diferente desta vez foi a condenação internacional --dos Estados Unidos à Venezuela--, o que faz do novo governo, em um limbo diplomático, um teste para as aventuras golpistas deste século.)

As Forças Armadas hondurenhas prenderam e deportaram o presidente. Tanques ocuparam alguns pontos estratégicos da cidade. Seguindo a praxe dos golpes, canais de notícias e rádios saíram do ar ou passaram programas amenos.

Os militares, com apoio do Congresso e da Justiça, também prenderam integrantes do antigo governo --a acusação feita pelos apoiadores de Zelaya foi corroborada pela OEA (Organização dos Estados Americanos). Estariam presos a ministra das Relações Exteriores, Patricia Rodas, o prefeito de San Pedro Sula (centro industrial), Rodolfo Padilla, entre outros.

O objetivo declarado do golpe é barrar a consulta proposta pelo presidente, tampouco prevista legalmente, que abriria caminho para uma nova Carta permitindo a reeleição.

O discurso mais repisado do novo governo, porém, é a necessidade de barrar o "socialismo", desta vez a ameaça estatista da aliança com Caracas.

Foi em Caracas que ocorreu a última tentativa de golpe no hemisfério, em 2002. O último golpe bem-sucedido foi o de oficiais militares, apoiados por movimentos indígenas, contra o governo de Jamil Mahuad, no Equador, em 2000.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

sábado, 4 de julho de 2009




NÃO É MOLE NÃO !
TAÇA SÃO PAULO, PORTO ALEGRE E PAULISTÃO !
GANHAMOS TUDO !

Real, 15 anos

Plano produziu avanço enorme, mas opções na sua condução geraram custos desnecessários para PIB e dívida pública

SEM DÚVIDA há muito o que comemorar no aniversário de 15 anos do Plano Real.
A queda da inflação -que fechou o ano de 1994 em 1.000%- para os atuais níveis de um dígito não só trouxe um horizonte previsível para a atividade econômica, fator crucial para o desenvolvimento, mas pôs fim ao dispositivo da distribuição de renda contra os mais pobres, o segmento mais desprotegido contra os efeitos da corrosão inflacionária.
Além disso, a transformação do ambiente macroeconômico se deu em meio a reformas importantes, como o saneamento do sistema financeiro nacional, a renegociação das dívidas de Estados e municípios e a consolidação da Lei de Responsabilidade Fiscal como marco regulador para a condução das finanças públicas.
Mas o caminho rumo à estabilização também envolveu enormes custos, em parte desnecessários, porque decorrentes de opções de política incorretas.
Se a valorização do real dos primeiros meses foi importante para o sucesso do plano num momento delicado, logo ficaria clara a necessidade de correção de rumos -dada a expansão acelerada das importações e do déficit nas transações com o exterior.
No entanto, pautada em boa medida pelas intenções do presidente Fernando Henrique Cardoso de reeleger-se em 1998, a política econômica decidiu manter a âncora cambial do real em patamar apreciado, o que exigiu a fixação da taxa de juros interna em níveis historicamente elevados para garantir a entrada no país dos dólares, necessários para fechar as contas externas.
O abandono do câmbio fixo em favor de um sistema de taxas flutuantes, em janeiro de 1999, ocorreu após três crises cambias terem tornado evidente a inevitabilidade da mudança.
Mas a substituição tardia do regime cambial deixou um ônus para a estratégia anti-inflacionária em sua nova etapa. A elevada dívida pública herdada da fase anterior condicionou a política econômica sob o regime de metas de inflação a manter as taxas de juros ainda excessivamente altas, como compensação aos investidores pelos riscos associados ao financiamento do Estado.
A opção por postergar o ajuste teve consequências danosas, que se fizeram sentir principalmente sob a forma de sacrifício do crescimento econômico, elevação da carga tributária e restrição ao aumento do investimento público, em especial no setor de infraestrutura, cujas carências são, ainda hoje, um dos limitadores para a sustentação de taxas elevadas de crescimento por longo tempo.