quinta-feira, 30 de abril de 2009

Número de casos confirmados de gripe suína atinge 236, diz OMS

30/04/2009 - 13h15

da Folha Online

Balanço divulgado pela OMS (Organização Mundial de Saúde) nesta quinta-feira confirmou a ocorrência de 236 casos de gripe suína no mundo --um salto em relação ao balanço passado, segundo o qual havia 148 casos, em 12 países. O número de mortes confirmadas permanece oito --sete no México e uma, de um bebê, nos Estados Unidos--, pois a OMS não reconheceu uma nova morte ocorrida no México, segundo o governo do país. No Brasil, há dois casos suspeitos, de acordo com o Ministério da Saúde.

Mesmo com o aumento dos casos confirmados, a OMS ainda não estuda elevar o nível de alerta para 6, o último na escala da entidade, que indicaria pandemia (epidemia de grandes proporções, talvez global).

De acordo com o diretor-geral adjunto da OMS, Keiji Fukuda, o México foi o país com maior peso no aumento de casos registrados na nova estatística já que o número de casos no país pulou de 26 para 97. "A razão deste grande salto é que, no México, estão sendo feitos agora milhares de exames de laboratório com os casos suspeitos", disse. No México, o número de mortes sob suspeita é de 176.

Nos EUA, de acordo com o Centros de Controle de Doenças (CDC, na sigla em inglês), há 109 casos confirmados de gripe suína, em 11 Estados. Entre eles, há 50 em Nova York, 26 no Texas, 14 na Califórnia e 10 na Carolina do Sul. Conforme o CDC, a única morte causada pela doença no país é de um bebê mexicano, no Texas.

Os outros países com casos confirmados da doença são Canadá, Israel, Nova Zelândia, Alemanha, Escócia, Inglaterra, Áustria, Suíça, Holanda, Espanha e Peru --o primeiro na América do Sul.

Dario Lopez-Mills/AP

Mulher carrega criança em setor de hospital naval da Cidade do México exclusiva para tratar gripe suína

Cautela

O vírus é transmitido como o de uma gripe comum, de pessoa para pessoa, mesmo dias antes de os sintomas aparecerem ou depois de eles terem sumido. Por isso, ao visitarem doentes, familiares devem ter acesso limitado e seguir as mesmas precauções adotadas pelos profissionais da saúde --usar óculos e até uma "blindagem" facial. Em todos os casos, a recomendação é para que pessoas com sintomas de gripe fiquem em casa.

Os sintomas em humanos são parecidos com os da gripe comum e incluem febre acima de 39ºC, falta de apetite e tosse. Algumas pessoas com a gripe suína também relataram ter apresentado catarro, dor de garganta, náusea.

Nesta quarta-feira, o presidente mexicano, Felipe Calderón, pediu que as pessoas aproveitem o feriado de 1º de maio para ficar em casa e evitar mais transmissão do vírus. "Quero exortá-los todos que nestes dias de folga que vamos ter, nesta ponte que irá de 1º a 5 de maio, fique em tua casa com a tua família; porque não há lugar mais seguro para evitar contagiar-se do vírus da gripe suína que tua própria casa", afirmou Calderón em um discurso à nação na véspera de completar uma semana de declarada a emergência sanitária.

México

Para evitar as concentrações, o governo do México suspendeu as aulas em todo o país, assim como as apresentações culturais e artísticas. Na capital permanecem fechados os bares e restaurantes. O presidente afirmou ainda que fechou todos os serviços não essenciais do governo e prédios de empresas privadas, enquanto o número de doentes passa de 2.500.

O ministro da Fazenda, Agustín Carstens, calculou que as perdas econômicas pela emergência sanitária ficarão entre 0,3 e 0,5% do PIB caso a crise tenha duração de três meses.

Com agências internacionais
27/04/2009 - 05h52
Saiba mais sobre a gripe suína
colaboração para a Folha Online

Atualizado em 28/04/2009 às 09h13.

Até agora, sabe-se que a gripe suína se trata de uma doença respiratória que teve origem em porcos, a partir da combinação de material genético de diferentes vírus de gripe. Cientistas e governos ainda buscam informações mais detalhadas sobre a doença e as formas de prevenção e tratamento, mas algumas das dúvidas já podem ser respondidas com base nos dados divulgados por governos e centros de pesquisa.

Veja abaixo as repostas a algumas das questões relacionadas ao surto

O que é a gripe suína?

É uma doença respiratória causada pelo vírus influenza A, chamado de H1N1. Ele é diferente do H1N1 totalmente humano que circula nos últimos anos, por conter material genético dos vírus humanos, de aves e suínos, incluindo elementos de vírus suínos da Europa e da Ásia.

A gripe tem cura?

Tem tratamento.

Como é transmitido o vírus?

Em casos registrados nos últimos anos, a doença foi contraída por pessoas que tiveram contatos com criações de porcos, mas não há registro de que o mesmo tenha acontecido no atual surto. Ela está sendo da mesma forma que a gripe comum: por via aérea, de pessoa para pessoa, por meio de espirros e tosse.

Quais são os sintomas?

Os sintomas em humanos são parecidos com os da gripe comum e incluem febre acima de 38°C, falta de apetite e tosse. Algumas pessoas com a gripe suína também relataram ter apresentado catarro, dor de garganta e náusea.

Infecção de gripe suína é comum em humanos?

No passado, os Centros de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC) registraram 12 casos de infecção humana pelo vírus da gripe suína, todo em pessoas que tiveram contato com porcos. Nesses casos, não houve evidência de transmissão entre humanos.

Pode-se contrair a doença comendo carne de porco?

Não. Os vírus da gripe suína não são transmitidos pela comida. O governo mexicano e a OMS (Organização Mundial de Saúde) descartaram qualquer risco de infecção por ingestão de carne de porco. De acordo com o CDC, a temperatura de cozimento (71ºC) destrói os vírus e as bactérias.

Como devo agir se estiver com os sintomas?

Não houve detecção da nova gripe no Brasil até o momento. Portanto, quem tiver sintomas de gripe pode tomar remédios sintomáticos e procurar um médico, caso os sintomas persistam, para tomar um antiviral. Mais informações: www.saude.gov.br

E quem chegou de viagem?

Se a pessoa esteve nos últimos dez dias em países onde houve casos, como o México, e apresenta sintomas. pode procurar um médico e realizar o exame para identificar o tipo de gripe. Deve-se evitar locais com presença de muitas pessoas enquanto não sai o resultado.

Qual a diferença entre a gripe suína e a gripe comum?

A gripe suína é caracterizada pelos sintomas da gripe comum, mas pode causar vômitos e diarreia mais graves. A gripe comum mata entre 250 mil e 500 mil pessoas a cada ano, principalmente entre a população mais velha. A maioria das pessoas morre de pneumonia, e a gripe pode matar por razões que ninguém entende. Também pode piorar infecções por bactérias. A maioria dos mortos da gripe suína tinha entre 25 e 45 anos.

Como a infecção de humanos com gripe suína pode ser diagnosticada?

Para diagnosticar a infecção, uma amostra respiratória precisa ser coletada nos quatro ou cinco primeiros dias da doença, quando a pessoa infectada espalha vírus, e examinadas em laboratório. Entretanto, algumas pessoas, principalmente crianças, podem espalhar o vírus por dez dias ou mais.

Existe vacina contra esta doença?

As vacinas normais contra a gripe são alteradas todos os anos para incluir imunização contra novas variedades de vírus. Segundo as autoridades mexicanas, que citam a Organização Mundial de Saúde (OMS), a vacina existente para humanos é para uma cepa anterior ao vírus, com o qual não é tão eficaz. Mas como os casos confirmados de mortes atingiram adultos, é possível que as pessoas mais vulneráveis --crianças e idosos--tenham se beneficiado por serem alvo de vacinação mais regularmente que os adultos jovens.

A vacina contra a gripe comum tem eficácia contra a gripe suína?

Não se sabe. Pode haver uma prevenção, ainda que parcial, se considerado o fato de que os casos no México ocorreram principalmente com adultos jovens. Lá, crianças de até 3 anos e adultos com mais de 50 vacinam-se rotineiramente contra a gripe humana.

Existe algum remédio eficaz contra a doença?

Os antigripais Tamiflu e Relenza, já utilizados contra a gripe aviária, são eficazes contra o vírus H1N1, segundo testes laboratoriais e parecem ter dado resultado prático, de acordo com o CDC.

Por que a OMS está em estado de alerta?

Porque há casos humanos associados a um vírus de gripe animal, mas também pela extensão geográfica dos diferentes focos, assim como pela idade não habitual dos grupos afetados. A gripe suína representa o maior risco de uma pandemia em larga escala desde que a gripe aviária que ressurgiu em 2003.

Trata-se de um novo tipo de gripe suína?

Assim como no ser humano, os vírus da gripe sofrem mutação contínua no porco, um animal que possui, nas vias respiratórias, receptores sensíveis aos vírus da influenza suína, humana e aviária. Os porcos tornam-se incubadoras que favorecem o aparecimento de novos vírus gripais, através de combinações genéticas, em caso de contaminações simultâneas. Esses tipos de vírus híbridos podem provocar o aparecimento de um novo vírus da gripe, tão virulento como o da gripe aviária e tão transmissível como a gripe humana.

Os turistas com viagens marcadas para o México deveriam ficar preocupados?

A OMS diz que não é preciso alterar planos de viagens e o México disse que não vê necessidade de fechar as fronteiras. Mas governos de países como Itália, Polônia e Venezuela aconselharam os seus cidadãos a adiarem viagens às áreas em que foram registrados casos de gripe suína no México e nos EUA. Segundo a OMC, o fechamento de fronteiras e as restrições às viagens seriam inúteis, porque o vírus já se espalhou.

Corro risco de viajar aos países atingidos?

Por enquanto não há um alerta por parte das entidades sanitárias que justifique o cancelamento da viagem. Mas adiá-la, caso possível, pode ser uma atitude preventiva. os que vão a locais afetados podem usar máscaras, lavar as mãos com água e sabão constantemente e evitar aglomerações, entre outros procedimentos.

Como se previne estando nesses locais?

Com máscaras, lavando sempre as mãos e evitando locais com muita gente entre outros.

Qual o tempo de incubação?

Em média varia de 24 horas a 3 dias. A mídia mexicana cita até duas semanas.

Posso contrair o vírus de alguém que não apresente os sintomas?

Sim. O Influenza pode ser transmitido por alguém até 24 horas antes de essa pessoa apresentar os sintomas.

Quais os grupos mais suscetíveis?

Pessoas com alguma doença crônica ou deficiência imunológica sempre estão mais sujeitas.

Quanto tempo demora o resultado do exame que detecta a gripe suína?

Nos EUA, tem demorado em torno de três dias. A Fiocruz prevê o mesmo para o Brasil.

Com France Presse, Reuters, CDC e Folha de S.Paulo

segunda-feira, 27 de abril de 2009

sábado, 25 de abril de 2009

O Eterno "Quintal" ???


O ETERNO "QUINTAL"
Ato falho? Apesar de o então candidato Barack Obama ter dito que sua eleição seria o fim da América Latina como "quintal" dos EUA, o recado parece não ter chegado até a sua hoje secretária de Estado, Hillary Clinton. Numa fala ontem, em Santo Domingo, na República Dominicana, a ex-senadora disse:
"Os EUA querem engajar-se com nosso Hemisfério.
Esse é o nosso quintal"

Fonte :Ministério das relações exteriores
http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe3.asp?ID_RESENHA=567678

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Entre persas, árabes e israelenses

ROULA KHALAF
DO "FINANCIAL TIMES" Fonte Folha de S.Paulo

A nova abordagem de Barack Obama em relação a Teerã começa a emergir -antes até de a revisão plena ser concluída-, e a mudança parece drástica. Considerem três recentes decisões: primeiro, o presidente dos EUA adotou um tom respeitoso, que sinaliza que a "mudança de regime" deixou de ser um objetivo dos EUA.
Segundo, ele deixou claro que quer o Irã envolvido em questões que sejam causa comum de preocupação, sobretudo no Afeganistão. No espírito dessa colaboração, Washington convidou funcionários de Teerã para a recente conferência sobre o Afeganistão em Haia. Terceiro, e principal, é a decisão dos EUA de se unirem às demais potências mundiais na oferta de retomar as negociações nucleares com o Irã -e, ao menos por enquanto, sem condicioná-la ao fim do enriquecimento de urânio por Teerã. Claro que o objetivo dos EUA ainda é o mesmo: Washington quer impedir Teerã de adquirir armas nucleares e usar seu poderio político e militar para solapar os interesses ocidentais. A meta final do Irã tampouco mudou: garantir a aceitação de seu programa nuclear e o status de potência regional. Mas, após 30 anos de hostilidade entre os dois países, não se deve subestimar tais passos.
Embora as reações de Teerã não sejam 100% encorajadoras, as decisões da Casa Branca tiveram impacto sutil: abrir o debate dentro do regime iraniano antes da eleição presidencial de junho e lançar pressão sobre Teerã por uma resposta à altura. Com o tempo, elas darão às forças moderadas no país munição para se fazer ouvir.

Outros atores
Neste primeiro estágio, porém, Washington tem dois outros atores a considerar enquanto se esforça para promover uma distensão com Teerã. O primeiro são seus aliados árabes, que temem a influência crescente do Irã no golfo Pérsico e a possibilidade de os iranianos interferirem em causas que consideram como suas, sobretudo o conflito árabe-israelense. Esses aliados presumem que melhores laços entre Washington e Teerã enfraqueceriam seus elos com os EUA. O relacionamento entre o Irã e o mundo árabe está piorando.
Em março, Marrocos cortou relações com Teerã, alegando que os iranianos buscam difundir o islã xiita entre a maioria muçulmana sunita do país. Mais bizarra é uma investigação do Egito sobre um grupo supostamente ligado ao Hizbollah, grupo libanês apoiado pelo Irã, e suspeito de planejar ataques contra seu território. Mas os países árabes podem ser convencidos dos méritos de um diálogo entre EUA e Irã.
Mais complicado é Israel, dono do único arsenal nuclear do Oriente Médio (não declarado), mas que ainda assim se sente vulnerável. Enquanto os EUA agem sob a suposição de que o Irã atua de forma racional, o novo governo israelense vê na liderança em Teerã um "culto messiânico apocalíptico", como disse o premiê Binyamin Netanyahu à revista "Atlantic".
Israel aposta que a aproximação com o Irã fracassará e que o mundo apoiará sanções econômicas muito mais punitivas ou uma ação militar para destruir instalações militares do rival. Assim, devemos esperar que, a cada passo, o governo Obama enfrente mais procrastinação de Teerã, impaciência de Israel e ansiedade entre os árabes.
Será preciso perseverar e enviar uma mensagem clara aos aliados árabes de que eles não devem temer a distensão dos EUA com o Irã, bem como uma severa advertência a Israel contra uma eventual aventura militar lançada isoladamente.


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Tradução de PAULO MIGLIACCI

sexta-feira, 17 de abril de 2009




17/04/2009 - 20h47
Obama e Chávez apertam as mãos em Cúpula das Américas
da Folha Online

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e o presidente venezuelano, Hugo Chávez, um severo crítico das políticas americanas, apertaram as mãos nesta sexta-feira, na abertura da Cúpula das Américas, em Port of Spain, um ato que o governo de Caracas classificou como "histórico".

leia a matéria original :
http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u552593.shtml


Socialismo fracassou, capitalismo quebrou: o que vem a seguir?

A prova de uma política progressista não é privada, mas sim pública. A
prioridade não é o aumento do lucro e do consumo, mas sim a ampliação
das oportunidades e, como diz Amartya Sen, das capacidades de todos
por meio da ação coletiva. Isso significa iniciativa pública não
baseada na busca de lucro. Decisões públicas dirigidas a melhorias
sociais coletivas com as quais todos sairiam ganhando. Esta é a base
de uma política progressista, não a maximização do crescimento
econômico e da riqueza pessoal. A análise é do historiador britânico
Eric Hobsbawm


Eric Hobsbawm - The Guardian

Data: 15/04/2009
Seja qual for o logotipo ideológico que adotemos, o deslocamento do
mercado livre para a ação pública deve ser maior do que os políticos
imaginam. O século XX já ficou para trás, mas ainda não aprendemos a
viver no século XXI, ou ao menos pensá-lo de um modo apropriado. Não
deveria ser tão difícil como parece, dado que a idéia básica que
dominou a economia e a política no século passado desapareceu,
claramente, pelo sumidouro da história. O que tínhamos era um modo de
pensar as modernas economias industriais – em realidade todas as
economias -, em termos de dois opostos mutuamente excludentes:
capitalismo ou socialismo.

Conhecemos duas tentativas práticas de realizar ambos sistemas em sua
forma pura: por um lado, as economias de planificação estatal,
centralizadas, de tipo soviético; por outro, a economia capitalista de
livre mercado isenta de qualquer restrição e controle. As primeiras
vieram abaixo na década de 1980, e com elas os sistemas políticos
comunistas europeus; a segunda está se decompondo diante de nossos
olhos na maior crise do capitalismo global desde a década de 1930. Em
alguns aspectos, é uma crise de maior envergadura do que aquela, na
medida em que a globalização da economia não estava então tão
desenvolvida como hoje e a economia planificada da União Soviética não
foi afetada. Não conhecemos a gravidade e a duração da atual crise,
mas sem dúvida ela vai marcar o final do tipo de capitalismo de livre
mercado iniciado com Margareth Thatcher e Ronald Reagan.

A impotência, por conseguinte, ameaça tanto os que acreditam em um
capitalismo de mercado, puro e desestatizado, uma espécie de
anarquismo burguês, quanto os que crêem em um socialismo planificado e
descontaminado da busca por lucros. Ambos estão quebrados. O futuro,
como o presente e o passado, pertence às economias mistas nas quais o
público e o privado estejam mutuamente vinculados de uma ou outra
maneira. Mas como? Este é o problema que está colocado diante de nós
hoje, em particular para a gente de esquerda.

Ninguém pensa seriamente em regressar aos sistemas socialistas de tipo
soviético, não só por suas deficiências políticas, mas também pela
crescente indolência e ineficiência de suas economias, ainda que isso
não deva nos levar a subestimar seus impressionantes êxitos sociais e
educacionais. Por outro lado, até a implosão do mercado livre global
no ano passado, inclusive os partidos social-democratas e moderados de
esquerda dos países do capitalismo do Norte e da Australásia estavam
comprometidos mais e mais com o êxito do capitalismo de livre mercado.

Efetivamente, desde o momento da queda da URSS até hoje não recordo
nenhum partido ou líder que denunciasse o capitalismo como algo
inaceitável. E nenhum esteve tão ligado a sua sorte como o New Labour,
o novo trabalhismo britânico. Em suas políticas econômicas, tanto Tony
Blair como Gordon Brown (este até outubro de 2008) podiam ser
qualificados sem nenhum exagero como Thatchers com calças. O mesmo se
aplica ao Partido Democrata, nos Estados Unidos.

A idéia básica do novo trabalhismo, desde 1950, era que o socialismo
era desnecessário e que se podia confiar no sistema capitalista para
fazer florescer e gerar mais riqueza do que em qualquer outro sistema.
Tudo o que os socialistas tinham que fazer era garantir uma
distribuição eqüitativa. Mas, desde 1970, o acelerado crescimento da
globalização dificultou e atingiu fatalmente a base tradicional do
Partido Trabalhista britânico e, em realidade, as políticas de ajudas
e apoios de qualquer partido social democrata. Muitas pessoas, na
década de 1980, consideraram que se o barco do trabalhismo não queria
ir a pique, o que era uma possibilidade real, tinha que ser objeto de
uma atualização.

Mas não foi. Sob o impacto do que considerou a revitalização econômica
thatcherista, o New Labour, a partir de 1997, engoliu inteira a
ideologia, ou melhor, a teologia, do fundamentalismo do mercado livre
global. O Reino Unido desregulamentou seus mercados, vendeu suas
indústrias a quem pagou mais, deixou de fabricar produtos para a
exportação (ao contrário do que fizeram Alemanha, França e Suíça) e
apostou todo seu dinheiro em sua conversão a centro mundial dos
serviços financeiros, tornando-se também um paraíso de bilionários
lavadores de dinheiro. Assim, o impacto atual da crise mundial sobre a
libra e a economia britânica será provavelmente o mais catastrófico de
todas as economias ocidentais e o com a recuperação mais difícil
também.

É possível afirmar que tudo isso já são águas passadas. Que somos
livres para regressar à economia mista e que a velha caixa de
ferramentas trabalhista está aí a nossa disposição – inclusive a
nacionalização -, de modo que tudo o que precisamos fazer é utilizar
de novo essas ferramentas que o New Labour nunca deixou de usar. No
entanto, essa idéia sugere que sabemos o que fazer com as ferramentas.
Mas não é assim.

Por um lado, não sabemos como superar a crise atual. Não há ninguém,
nem os governos, nem os bancos centrais, nem as instituições
financeiras mundiais que saiba o que fazer: todos estão como um cego
que tenta sair do labirinto tateando as paredes com todo tipo de
bastões na esperança de encontrar o caminho da saída.

Por outro lado, subestimamos o persistente grau de dependência dos
governos e dos responsáveis pelas políticas às receitas do livre
mercado, que tanto prazer lhes proporcionaram durante décadas. Por
acaso se livraram do pressuposto básico de que a empresa privada
voltada ao lucro é sempre o melhor e mais eficaz meio de fazer as
coisas? Ou de que a organização e a contabilidade empresariais
deveriam ser os modelos inclusive da função pública, da educação e da
pesquisa? Ou de que o crescente abismo entre os bilionários e o resto
da população não é tão importante, uma vez que todos os demais –
exceto uma minoria de pobres – estejam um pouquinho melhor? Ou de que
o que um país necessita, em qualquer caso, é um máximo de crescimento
econômico e de competitividade comercial? Não creio que tenham
superado tudo isso.

No entanto, uma política progressista requer algo mais que uma ruptura
um pouco maior com os pressupostos econômicos e morais dos últimos 30
anos. Requer um regresso à convicção de que o crescimento econômico e
a abundância que comporta são um meio, não um fim. Os fins são os
efeitos que têm sobre as vidas, as possibilidades vitais e as
expectativas das pessoas.

Tomemos o caso de Londres. É evidente que importa a todos nós que a
economia de Londres floresça. Mas a prova de fogo da enorme riqueza
gerada em algumas partes da capital não é que tenha contribuído com 20
ou 30% do PIB britânico, mas sim como afetou a vida de milhões de
pessoas que ali vivem e trabalham. A que tipo de vida têm direito?
Podem se permitir a viver ali? Se não podem, não é nenhuma compensação
que Londres seja um paraíso dos muito ricos. Podem conseguir empregos
remunerados decentemente ou qualquer tipo de emprego? Se não podem, de
que serve jactar-se de ter restaurantes de três estrelas Michelin, com
alguns chefs convertidos eles mesmos em estrelas. Podem levar seus
filhos à escola? A falta de escolas adequadas não é compensada pelo
fato de que as universidades de Londres podem montar uma equipe de
futebol com seus professores ganhadores de prêmios Nobel.

A prova de uma política progressista não é privada, mas sim pública.
Não importa só o aumento do lucro e do consumo dos particulares, mas
sim a ampliação das oportunidades e, como diz Amartya Sen, das
capacidades de todos por meio da ação coletiva. Mas isso significa –
ou deveria significar – iniciativa pública não baseada na busca de
lucro, sequer para redistribuir a acumulação privada. Decisões
públicas dirigidas a conseguir melhorias sociais coletivas com as
quais todos sairiam ganhando. Esta é a base de uma política
progressista, não a maximização do crescimento econômico e da riqueza
pessoal.

Em nenhum âmbito isso será mais importante do que na luta contra o
maior problema com que nos enfrentamos neste século: a crise do meio
ambiente. Seja qual for o logotipo ideológico que adotemos,
significará um deslocamento de grande alcance, do livre mercado para a
ação pública, uma mudança maior do que a proposta pelo governo
britânico. E, levando em conta a gravidade da crise econômica, deveria
ser um deslocamento rápido. O tempo não está do nosso lado.

Artigo publicado originalmente no jornal The Guardian

Tradução do inglês para o espanhol: S. Segui, integrante dos coletivos
Tlaxcala, Rebelión e Cubadebate.

Tradução do espanhol para o português: Katarina Peixoto

Fonte: Agência Carta Maior

sábado, 11 de abril de 2009

Crise põe diplomacia chavista na berlinda

Folha de S. Paulo
São Paulo, sábado, 11 de abril de 2009
Amparada em petróleo, cujos preços despencaram no último semestre, expansão da influência venezuelana via Petrocaribe corre risco

Venda subsidiada para 17 países garantiu que Caracas estreitasse laços não só com aliados óbvios mas também com governos mais à direita

Palácio Miraflores/Reuters

O dirigente cubano Raúl Castro recebe Chávez em Havana, onde falaram em afinar melhor os discursos; petróleo estreirou aliança

FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL

Com a queda do preço do petróleo, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, chegará nesta sexta à Cúpula das Américas, em Trinidad e Tobago, às voltas com questionamentos sobre a sustentabilidade da petrodiplomacia, lastro do considerável aumento de sua influência na América Central e Caribe.
Os ajustes no Orçamento -calculado com o barril a US$ 60 quando ele fechou a semana em US$ 46- e notícias de problemas de caixa na PDVSA, a megaestatal responsável por 94% das exportações venezuelanas, acenderam as primeiras luzes de alerta sobre a Petrocaribe, a mais famosa ação da era de bonança chavista, que vende petróleo barato a 17 países.
Também vieram maus sinais de um programa menor, mas estratégico na propaganda chavista: a venda de petróleo subsidiado nos EUA. Em janeiro, o projeto de US$ 100 milhões que distribuiu 200 mil barris de petróleo/ano foi cancelado. Dias depois foi retomado com os venezuelanos sublinhando seu "sacrifício" para mantê-lo.
O caso da Petrocaribe, porém, é mais grave por ser o mais bem-sucedido programa da petrodiplomacia, que abarca desde a aliada de primeiríssima hora Cuba até países longe de ter marcada afinidade ideológica, como o Panamá, que acaba de ter o pedido de adesão, feito no mês passado, aceito.
O programa avançou sobre a América Central e Caribe na esteira da escalada do preço do petróleo e no vácuo da presença americana na região. Segundo dados oficiais de julho, a iniciativa já entregou 59 milhões de barris de petróleo, gerando economia de US$ 921 milhões aos beneficiários desde 2005.
Mas o arrocho nas contas começa a fazer estrago. Caracas anunciou que terá de abrir mão dos cronogramas de obras de refinarias no Equador e na Nicarágua -nesta última, a usina foi batizada com o nome de Supremo Sonho de Bolívar. O sonho, no caso, custaria de US$ 4 bilhões a US$ 10 bilhões, e deveria estar pronto em 2013.
A Venezuela também anunciou ambiciosos projetos de investimentos em Cuba, como a ampliação de construção de uma refinaria em Cienfuegos e outra em Santiago.
"Há pouca transparência nos números da PDVSA e da Petrocaribe. Mas o que se pode dizer é que não haverá dinheiro para esses investimentos", diz o analista Jorge Piñón, ex- ex-presidente para a América Latina da petroleira Amoco Oil, que acaba de voltar de uma conferência sobre petróleo em Havana.
O governo diz que os contratos da Petrocaribe estão mantidos. Mas a Costa Rica, cuja adesão fora acertada em julho, não parece segura. O presidente Óscar Arias fez em fevereiro uma cobrança pública da situação: "Nós temos de perguntar a Chávez se ele deseja continuar com isso. [...] [Chávez] não parece tão entusiasta como no passado em ampliar o programa", disse ele à Bloomberg.
A preocupação de Arias e de seus colegas centro-americanos não é com o futuro imediato, mas com uma eventual alta no volátil mercado de combustível. Bastante debilitados pela crise mundial, eles sofreriam muito com o baque.
"Os preços baixos do petróleo ameaçam a Petrocaribe. Os países com governos de esquerda como Cuba, Equador e Bolívia estão em segurança, mas os países do Caribe estão sob maior risco", diz Kate Parker, analista para a Venezuela da Economist Intelligence Unit, ligada à revista "Economist".
Erasto Almeida, consultor para a América Latina do Eurasia Group, prevê que Chávez ainda tenha alguma reserva para gastar em 2009, mas que a situação será outra no ano que vem. "Não acredito que ele vá eliminar o programa, mas pode restringi-lo. A PDVSA está com menos receita, e o governo, com a queda de arrecadação interna, precisa ainda mais dela."

Pressão interna e retórica
Há ainda a pressão interna. Com o anúncio de reajuste no Orçamento, a oposição redobrou as cobranças para que Chávez pare de ser o Papai Noel do petróleo na região.
"O mais importante não é quanto custa efetivamente a iniciativa, mas o fato de que o país poderia ganhar mais se o petróleo fosse vendido a preço de mercado", diz Parker.
Caracas diz que o volume entregue à Petrocaribe corresponde a 5% do que exporta e que pode manter o programa.
Mas num cenário de aperto fiscal, Chávez não parece disposto a suavizar ações nem retórica. Em março, ocupou uma fábrica de arroz, tomou o controle de portos e aeroportos administrados regionalmente por opositores e, no front externo, tem oscilado nas críticas ao novo presidente americano, Barack Obama -com quem estará cara a cara pela primeira vez na Cúpula das Américas.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Com quantos G se fará o mundo?

Com quantos G se fará o mundo?
CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - Lembra-se da cúpula do G20, aquela em que Barack Obama acarinhou Luiz Inácio Lula da Silva, e a parte deslumbrada do Brasil viu no gesto o surgimento de uma nova liderança planetária?
Pois é, Timothy Garton Ash, um dos mais respeitados acadêmicos europeus, viu outra coisa: para ele, a cúpula do G20 foi o momento em que "a China surgiu definitivamente como potência do século 21", conforme escreveu para "El País", da Espanha.
Com isso, o que contaria no mundo não seria nem o G20, nem o G8, nem nada parecido, mas apenas o G2 (China e Estados Unidos).
Nesta Folha, ontem mesmo, Marcos Nobre preferia falar de um G4 (Estados Unidos, China, Japão e Alemanha) como comandantes de "um novo arranjo econômico informal" a emergir com a recuperação da economia mundial.
Em todas essas análises, perfeitamente lógicas, o que não quer dizer que venham a se comprovar na prática, no todo ou em parte, o pressuposto essencial é de um certo declínio norte-americano. Qualquer G com mais de um só faz sentido se se lembrar que, hoje, vale o G1, os Estados Unidos como única superpotência remanescente.
Lembro-me de, faz 20 anos, ter feito uma viagem de estudos, patrocinada pelo governo norte-americano, exatamente para tentar entender o que então se chamava "declinismo", ou seja, a suposição de que os Estados Unidos caminhavam para um declínio irreversível. A bola da vez, como sucessor, era o Japão.
Deu no que todos sabemos: quem declinou foi o Japão. Por isso, sem desprezar qualquer hipótese futura de G-algum-número, fico com José Luís Fiori (UFRJ) em "O mito do colapso do poder americano": "Esse declínio relativo dos Estados Unidos não significa um colapso do seu poder econômico nem o fim de sua supremacia mundial".

da Folha de S. Paulo

domingo, 5 de abril de 2009

Dicas de Leitura / Abril 2009

A aposentadoria do Hubble
http://www.terra.com.br/istoe/edicoes/2058/artigo131888-1.htm


As ossadas do Araguaia
http://www.terra.com.br/istoe/edicoes/2058/as-ossadas-do-araguaia-a-espera-de-identificacao-ha-quase-131879-1.htm


As bombas químicas de Israel
http://www.clubemundo.com.br/ver.asp

Morales vai fazer novo censo se eleições de 6 dezembro forem garantidas
http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u549409.shtml

Irã saúda diálogo nuclear com potências mundiais, diz TV
http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u549757.shtml

Obama envia mensagem ao Irã propondo um "novo começo"
http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u537701.shtml

Coreia do Norte não colocou satélite em órbita, afirma Exército russo
http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u546460.shtml

Coreia do Norte alegou satélite para atirar míssil no Japão em 1998; veja cronologia
http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u546180.shtml

Coréia: Quem dividiu?
http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=162

Obama pede parceria com muçulmanos contra Al Qaeda
http://www1.folha.uol.com.br/folha/bbc/ult272u546662.shtml

Obama amplia guerra do Afeganistão para Paquistão e promete destruir "câncer" da Al Qaeda
http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u541483.shtml

Rússia e China barram tentativa dos EUA de punir Coreia do Norte por foguete
http://www1.folha.uol.com.br/folha/bbc/ult272u546969.shtml

Agência Standard & Poor's mantém nota do Brasil como "grau de investimento"
http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u546766.shtmlOtan 60 anos

Aliança militar é família disfuncional
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft0304200914.htm

É o fim da "era do segredo bancário", diz G20

Folha de S.Paulo
São Paulo, sexta-feira, 03 de abril de 2009

CÚPULA GLOBAL

É o fim da "era do segredo bancário", diz G20
Comunicado após a cúpula menciona ações contra paraísos fiscais e fortalecimento de controles sobre o setor financeiro

Regulação será estendida às agências de avaliação de risco; texto também destaca o início da transição rumo a uma economia mais verde

DO ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

Em meio a um comunicado essencialmente técnico de 29 parágrafos, os líderes do G20 encontraram uma brecha para uma proclamação política forte: "A era do segredo bancário acabou".
É uma alusão às prometidas ações contra os paraísos fiscais, parte do capítulo talvez mais suculento do documento, que trata do fortalecimento da regulação/supervisão financeiras, cujo fracasso é consensualmente apontado como responsável pela crise.
Os principais pontos do texto são os seguintes:





INJEÇÃO DE RECURSOS
O US$ 1,1 trilhão anunciado ontem divide-se em US$ 500 bilhões para elevar os recursos disponíveis do FMI a US$ 750 bilhões; nova alocação de Direitos Especiais de Saque, a moeda contábil do FMI, no valor de US$ 250 bilhões, uma forma de disponibilizar recursos relativamente baratos a países em dificuldades; US$ 100 bilhões de empréstimos adicionais dos bancos multilaterais de desenvolvimento (Banco Mundial, Banco Interamericano de Desenvolvimento, Banco da Ásia etc.); US$ 250 bilhões para financiamento ao comércio internacional, por meio das agências de crédito à exportação dos países-membros e também dos bancos regionais.

PACOTES FISCAIS
O texto calcula que os pacotes oficiais de gastos para estimular a economia chegarão até o fim de 2010 a US$ 5 trilhões [mais de três Brasis], com o que a produção aumentará 4%.

JUROS
"Nossos bancos centrais se comprometeram a manter políticas expansionistas pelo período que for necessário e a usar toda a gama de instrumentos de política monetária."
Tradução: uma era possivelmente longa de juros bastante baixos. O Banco Central Europeu, aliás, reduziu ontem mesmo os seus para o nível mais baixo da história.

CRESCIMENTO
O texto lembra que o FMI previu, no mês passado, que o crescimento da economia mundial seria retomado e subiria a mais de 2% até o fim de 2010. O novo pacote "acelerará o retorno à tendência de crescimento", diz o documento.

DÉFICITS
O G20 compromete-se a manter "a sustentabilidade fiscal no longo prazo e a estabilidade de preços", para o que "colocará em prática estratégicas críveis de saída das medidas que precisam ser tomadas".
Traduzindo: os líderes sabem que elevam perigosamente os déficits fiscais, o que pode ser combustível para a inflação, pelo que se comprometem a retornar à normalidade assim que possível. Como, não dizem.

DESVALORIZAÇÕES
O documento se compromete a evitar "desvalorizações competitivas de nossas moedas" para facilitar exportações.

REGULAÇÃO
"Cada um de nós concorda em assegurar que nossos sistemas regulatórios domésticos sejam fortes. Mas também concordamos em estabelecer uma consistência muito maior e uma cooperação sistemática entre países, e uma moldura de elevados padrões, internacionalmente acordados, que um sistema financeiro global requer". O texto parece indicar que prevalecerá a ideia de que a regulação/supervisão seguirá padrões internacionais, mas a aplicação será nacional.
- O Fórum de Estabilização Financeira, composto pelos bancos centrais, passa a ser Diretoria de Estabilidade Financeira. Antes da cúpula, já estava decidido que passa a ser integrada por todos os países do G20 mais a Espanha e a Comissão Europeia. Antes, apenas os países ricos faziam parte.
A nova Diretoria (FSB, na sigla em inglês) "colaborará com o FMI para prover aviso antecipado de riscos financeiros e macroeconômicos e as ações necessárias para enfrentá-los".
- A regulação/supervisão será estendida a todas as instituições financeiras "sistemicamente importantes", a todos os instrumentos [financeiros] e a todos os mercados. "Inclui, pela primeira vez, "hedge funds" sistemicamente importantes."
- Implementar "novos e duros princípios de pagamento e compensação" [para executivos de instituições financeiras].
- Adequar a disponibilidade de capital nos bancos aos seus empréstimos, mas apenas "depois que a recuperação [da economia] estiver assegurada". O texto diz, ainda, que, "no futuro, a regulação deve evitar excessiva alavancagem".

PARAÍSOS FISCAIS
O G20 promete adotar ações contra o que chama de "jurisdições não-cooperativas, inclusive paraísos fiscais".
Afirma estar pronto para adotar sanções "para proteger nossas finanças públicas e sistemas financeiros".
O texto lembra que ontem mesmo a OCDE divulgou uma lista de países investigados por seu Fórum Global que não cumprem padrões internacionais de troca de informações.

AGÊNCIAS DE RATING
O G20 estenderá a supervisão às agências de avaliação de risco, muito criticadas por terem dado atestado de boa saúde a ativos tóxicos.

FMI
Além de aumentar os recursos à disposição do Fundo, o texto reafirma que "economias emergentes e em desenvolvimento, incluindo as mais pobres, devem ter mais voz e representação" na instituição. Reafirma igualmente que até janeiro de 2011 deve estar completada a reforma das cotas que darão voz a países emergentes.

PROTECIONISMO
O texto repete promessas anteriores de não adotar novas barreiras ao comércio de bens e serviços ou aos investimentos.
Promete também não cair em "protecionismo financeiro", neologismo para designar o fato de que os bancos com sede nos países ricos retiraram capital dos países em desenvolvimento para cobrir buracos.

AJUDA AOS POBRES
O G20 promete US$ 50 bilhões para apoio à proteção social, estimular o comércio e proteger o desenvolvimento nos países de baixa renda.
Adicionalmente US$ 6 bilhões provenientes do FMI serão usados, nos próximos dois a três anos para países pobres.

AMBIENTE
O documento promete "uma transição para tecnologias e infraestrutura limpas, inovadoras e eficientes no uso de recursos naturais".
Reafirma também o compromisso de enfrentar a mudança climática, com base no princípio de "responsabilidades comuns e diferenciadas", ou seja, os países ricos pagarão mais que os outros. Recoloca ainda a decisão de alcançar um acordo na Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, a realizar-se em dezembro em Copenhague.
(CLÓVIS ROSSI)

sexta-feira, 3 de abril de 2009

'Esse é o cara !!!'

Entenda as medidas anunciadas na cúpula do G20

02/04/2009 - 20h30

da BBC Brasil

Os líderes das maiores economias do mundo, reunidos na cúpula do G20, em Londres, chegaram nesta quinta-feira a um acordo sobre medidas para combater a crise financeira mundial.

No encontro, ficou decidido que serão destinados mais de US$ 1 trilhão para combater os efeitos da crise, sendo US$ 750 bilhões ao FMI (Fundo Monetário Internacional) e US$ 250 bilhões para impulsionar o comércio global.

Além da injeção de recursos financeiros, os líderes também concordaram com outros pontos, como a imposição de sanções a paraísos fiscais, a necessidade de concluir a Rodada Doha de liberalização do comércio mundial e de denunciar países que adotem medidas protecionistas.

Veja abaixo detalhes sobre as decisões tomadas na reunião de Londres.

O que os líderes reunidos na cúpula do G20 decidiram?

Os líderes dos países do G20 decidiram triplicar para US$ 750 bilhões o volume de recursos disponível para o FMI, órgão que ajuda países em dificuldade. Esse montante inclui US$ 250 bilhões em SDR (Special Drawing Rights, ou Direitos Especiais de Saque).

Também serão destinados US$ 250 bilhões para ajudar a conter os efeitos da contração no comércio mundial e combater o protecionismo.

Os líderes concordaram ainda com novas medidas duras para regular as instituições financeiras, incluindo sanções contra paraísos fiscais que soneguem informações.

Qual será o efeito real das medidas anunciadas?

Há algum dinheiro novo, mas não tanto quanto parece. A maior parte dos US$ 250 bilhões para estimular o comércio mundial virá de programas já existentes, e apenas US$ 50 bilhões deverão ser destinados a países pobres.

A reforma do sistema financeiro será importante, mas somente para a próxima crise.

As medidas vão restaurar a economia mundial?

Sozinho o novo acordo terá apenas um efeito limitado sobre a crise econômica mundial. Somente parte do dinheiro destinado ao FMI será emprestado, e terá de ser pago com juros.

O mais importante é saber como os países continuarão a incentivar suas economias por meio de estímulos fiscais. O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, que era o anfitrião da cúpula do G20, disse que "estamos no meio de uma expansão fiscal que verá, até o final do próximo ano, uma injeção de US$ 5 trilhões em nossas economias".

Além disso, ainda é preciso consertar o sistema bancário, especialmente nos Estados Unidos.
O que ficou de fora das medidas definidas na cúpula de Londres?

Houve pouca discussão sobre questões como as cotações em baixa do dólar e da libra, que preocupam alguns países.

A discussão da proposta feita pela China de uma nova moeda internacional foi adiada.

Também não foi mencionada a questão dos desequilíbrios globais, por exemplo, a necessidade da China de gastar mais e dos Estados Unidos de economizarem mais, que alguns analistas acreditam estar na origem da atual crise global.

quarta-feira, 1 de abril de 2009