sexta-feira, 17 de abril de 2009




17/04/2009 - 20h47
Obama e Chávez apertam as mãos em Cúpula das Américas
da Folha Online

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e o presidente venezuelano, Hugo Chávez, um severo crítico das políticas americanas, apertaram as mãos nesta sexta-feira, na abertura da Cúpula das Américas, em Port of Spain, um ato que o governo de Caracas classificou como "histórico".

leia a matéria original :
http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u552593.shtml


Socialismo fracassou, capitalismo quebrou: o que vem a seguir?

A prova de uma política progressista não é privada, mas sim pública. A
prioridade não é o aumento do lucro e do consumo, mas sim a ampliação
das oportunidades e, como diz Amartya Sen, das capacidades de todos
por meio da ação coletiva. Isso significa iniciativa pública não
baseada na busca de lucro. Decisões públicas dirigidas a melhorias
sociais coletivas com as quais todos sairiam ganhando. Esta é a base
de uma política progressista, não a maximização do crescimento
econômico e da riqueza pessoal. A análise é do historiador britânico
Eric Hobsbawm


Eric Hobsbawm - The Guardian

Data: 15/04/2009
Seja qual for o logotipo ideológico que adotemos, o deslocamento do
mercado livre para a ação pública deve ser maior do que os políticos
imaginam. O século XX já ficou para trás, mas ainda não aprendemos a
viver no século XXI, ou ao menos pensá-lo de um modo apropriado. Não
deveria ser tão difícil como parece, dado que a idéia básica que
dominou a economia e a política no século passado desapareceu,
claramente, pelo sumidouro da história. O que tínhamos era um modo de
pensar as modernas economias industriais – em realidade todas as
economias -, em termos de dois opostos mutuamente excludentes:
capitalismo ou socialismo.

Conhecemos duas tentativas práticas de realizar ambos sistemas em sua
forma pura: por um lado, as economias de planificação estatal,
centralizadas, de tipo soviético; por outro, a economia capitalista de
livre mercado isenta de qualquer restrição e controle. As primeiras
vieram abaixo na década de 1980, e com elas os sistemas políticos
comunistas europeus; a segunda está se decompondo diante de nossos
olhos na maior crise do capitalismo global desde a década de 1930. Em
alguns aspectos, é uma crise de maior envergadura do que aquela, na
medida em que a globalização da economia não estava então tão
desenvolvida como hoje e a economia planificada da União Soviética não
foi afetada. Não conhecemos a gravidade e a duração da atual crise,
mas sem dúvida ela vai marcar o final do tipo de capitalismo de livre
mercado iniciado com Margareth Thatcher e Ronald Reagan.

A impotência, por conseguinte, ameaça tanto os que acreditam em um
capitalismo de mercado, puro e desestatizado, uma espécie de
anarquismo burguês, quanto os que crêem em um socialismo planificado e
descontaminado da busca por lucros. Ambos estão quebrados. O futuro,
como o presente e o passado, pertence às economias mistas nas quais o
público e o privado estejam mutuamente vinculados de uma ou outra
maneira. Mas como? Este é o problema que está colocado diante de nós
hoje, em particular para a gente de esquerda.

Ninguém pensa seriamente em regressar aos sistemas socialistas de tipo
soviético, não só por suas deficiências políticas, mas também pela
crescente indolência e ineficiência de suas economias, ainda que isso
não deva nos levar a subestimar seus impressionantes êxitos sociais e
educacionais. Por outro lado, até a implosão do mercado livre global
no ano passado, inclusive os partidos social-democratas e moderados de
esquerda dos países do capitalismo do Norte e da Australásia estavam
comprometidos mais e mais com o êxito do capitalismo de livre mercado.

Efetivamente, desde o momento da queda da URSS até hoje não recordo
nenhum partido ou líder que denunciasse o capitalismo como algo
inaceitável. E nenhum esteve tão ligado a sua sorte como o New Labour,
o novo trabalhismo britânico. Em suas políticas econômicas, tanto Tony
Blair como Gordon Brown (este até outubro de 2008) podiam ser
qualificados sem nenhum exagero como Thatchers com calças. O mesmo se
aplica ao Partido Democrata, nos Estados Unidos.

A idéia básica do novo trabalhismo, desde 1950, era que o socialismo
era desnecessário e que se podia confiar no sistema capitalista para
fazer florescer e gerar mais riqueza do que em qualquer outro sistema.
Tudo o que os socialistas tinham que fazer era garantir uma
distribuição eqüitativa. Mas, desde 1970, o acelerado crescimento da
globalização dificultou e atingiu fatalmente a base tradicional do
Partido Trabalhista britânico e, em realidade, as políticas de ajudas
e apoios de qualquer partido social democrata. Muitas pessoas, na
década de 1980, consideraram que se o barco do trabalhismo não queria
ir a pique, o que era uma possibilidade real, tinha que ser objeto de
uma atualização.

Mas não foi. Sob o impacto do que considerou a revitalização econômica
thatcherista, o New Labour, a partir de 1997, engoliu inteira a
ideologia, ou melhor, a teologia, do fundamentalismo do mercado livre
global. O Reino Unido desregulamentou seus mercados, vendeu suas
indústrias a quem pagou mais, deixou de fabricar produtos para a
exportação (ao contrário do que fizeram Alemanha, França e Suíça) e
apostou todo seu dinheiro em sua conversão a centro mundial dos
serviços financeiros, tornando-se também um paraíso de bilionários
lavadores de dinheiro. Assim, o impacto atual da crise mundial sobre a
libra e a economia britânica será provavelmente o mais catastrófico de
todas as economias ocidentais e o com a recuperação mais difícil
também.

É possível afirmar que tudo isso já são águas passadas. Que somos
livres para regressar à economia mista e que a velha caixa de
ferramentas trabalhista está aí a nossa disposição – inclusive a
nacionalização -, de modo que tudo o que precisamos fazer é utilizar
de novo essas ferramentas que o New Labour nunca deixou de usar. No
entanto, essa idéia sugere que sabemos o que fazer com as ferramentas.
Mas não é assim.

Por um lado, não sabemos como superar a crise atual. Não há ninguém,
nem os governos, nem os bancos centrais, nem as instituições
financeiras mundiais que saiba o que fazer: todos estão como um cego
que tenta sair do labirinto tateando as paredes com todo tipo de
bastões na esperança de encontrar o caminho da saída.

Por outro lado, subestimamos o persistente grau de dependência dos
governos e dos responsáveis pelas políticas às receitas do livre
mercado, que tanto prazer lhes proporcionaram durante décadas. Por
acaso se livraram do pressuposto básico de que a empresa privada
voltada ao lucro é sempre o melhor e mais eficaz meio de fazer as
coisas? Ou de que a organização e a contabilidade empresariais
deveriam ser os modelos inclusive da função pública, da educação e da
pesquisa? Ou de que o crescente abismo entre os bilionários e o resto
da população não é tão importante, uma vez que todos os demais –
exceto uma minoria de pobres – estejam um pouquinho melhor? Ou de que
o que um país necessita, em qualquer caso, é um máximo de crescimento
econômico e de competitividade comercial? Não creio que tenham
superado tudo isso.

No entanto, uma política progressista requer algo mais que uma ruptura
um pouco maior com os pressupostos econômicos e morais dos últimos 30
anos. Requer um regresso à convicção de que o crescimento econômico e
a abundância que comporta são um meio, não um fim. Os fins são os
efeitos que têm sobre as vidas, as possibilidades vitais e as
expectativas das pessoas.

Tomemos o caso de Londres. É evidente que importa a todos nós que a
economia de Londres floresça. Mas a prova de fogo da enorme riqueza
gerada em algumas partes da capital não é que tenha contribuído com 20
ou 30% do PIB britânico, mas sim como afetou a vida de milhões de
pessoas que ali vivem e trabalham. A que tipo de vida têm direito?
Podem se permitir a viver ali? Se não podem, não é nenhuma compensação
que Londres seja um paraíso dos muito ricos. Podem conseguir empregos
remunerados decentemente ou qualquer tipo de emprego? Se não podem, de
que serve jactar-se de ter restaurantes de três estrelas Michelin, com
alguns chefs convertidos eles mesmos em estrelas. Podem levar seus
filhos à escola? A falta de escolas adequadas não é compensada pelo
fato de que as universidades de Londres podem montar uma equipe de
futebol com seus professores ganhadores de prêmios Nobel.

A prova de uma política progressista não é privada, mas sim pública.
Não importa só o aumento do lucro e do consumo dos particulares, mas
sim a ampliação das oportunidades e, como diz Amartya Sen, das
capacidades de todos por meio da ação coletiva. Mas isso significa –
ou deveria significar – iniciativa pública não baseada na busca de
lucro, sequer para redistribuir a acumulação privada. Decisões
públicas dirigidas a conseguir melhorias sociais coletivas com as
quais todos sairiam ganhando. Esta é a base de uma política
progressista, não a maximização do crescimento econômico e da riqueza
pessoal.

Em nenhum âmbito isso será mais importante do que na luta contra o
maior problema com que nos enfrentamos neste século: a crise do meio
ambiente. Seja qual for o logotipo ideológico que adotemos,
significará um deslocamento de grande alcance, do livre mercado para a
ação pública, uma mudança maior do que a proposta pelo governo
britânico. E, levando em conta a gravidade da crise econômica, deveria
ser um deslocamento rápido. O tempo não está do nosso lado.

Artigo publicado originalmente no jornal The Guardian

Tradução do inglês para o espanhol: S. Segui, integrante dos coletivos
Tlaxcala, Rebelión e Cubadebate.

Tradução do espanhol para o português: Katarina Peixoto

Fonte: Agência Carta Maior

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